sábado, 14 de fevereiro de 2015

uma música para o fim de semana - Heróis do Mar


Tomei contacto pela primeira vez com a definição e conceito disruptivo através da publicidade.
Já foi há uns anitos.
Disruptivo é um romper com algo está estabelecido, que está rotinado. A capacidade de nos mostrar uma maneira diferente de ver algo óbvio.
É como um anúncio sobre automóveis ou de produtos de cozinha em que não aparece nem um, nem a outra. Ou uma fotografia que mostra uma paisagem através de um reflexo num lago ao invés de o fazer directamente.

Esse é um dos problemas das canções de amor. São óbvias, evidentes. São arrastadas, letras maçadoras. Iguais entre si.

Os Heróis do Mar que surgiram no início da década de 80, foram um sucesso imediato porque inovaram relativamente ao que se fazia em Portugal na altura.
A sua música, a sua forma de estar e cantar em palco, a sua estética nacionalista e épica, as suas letras, eram diferentes daquilo que estava em vigor na altura. Criaram uma assinatura muito típica de deles que ainda hoje se mantém e é reconhecida, apesar de a banda ter-se desfeito em 1989.
São várias as canções deles que me lembro muito bem.

Em jeito de Dia dos Namorados, há um tema muito conhecido e divertido que se chama Supersticioso.
Fala de amor, apesar de a palavra só aparecer uma vez, no final da letra. A música está longe de ser arrastada ou de se parecer com uma balada e Rui Pragal da Cunha não chora para o microfone.

É aquela coisa de ser disruptivo...

Bom fim de semana :)




Supersticioso

No dia, em que eu disse:
vou levar-te a passear
(vou levar-te a passear)
não posso, disseste:
o meu pai não vai deixar
(o meu pai não vai deixar)
o teu pai não vai deixar
nunca, nunca vai deixar
nunca te há de libertar,
já estou farto de o aturar.

Não sou supersticioso
Não sou supersticioso
Não sou supersticioso
Não sou supersticioso

Eu cá não sou supersticioso,
mas o pai dela dá-me azar.
Na sala não, pode ser perigoso,
vamos para o carro conversar.

A noite, com o céu...
E as estrelas a brilhar
(as estrelas a brilhar)
Em casa, não ficas
porque eu vou-te raptar
(porque eu vou-te raptar).

Não sou supersticioso
Não sou supersticioso
Não sou supersticioso
Não sou supersticioso

Eu cá não sou supersticioso,
mas o pai dela dá-me azar.
Na sala não, pode ser perigoso,
vamos para o carro conversar.

Não digas não, não
o amor é poderoso
vamos pro carro conversar,
vou acabar por te roubar.


dia dos Namorados





sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

série "vencedores" - Telma Monteiro





Ontem, a judoca do Benfica, Telma (Alexandra Pinto)  Monteiro tornou-se a melhor judoca do mundo na categoria de - 57kg após a actualização do ranking do mundo pela Federação Internacional de Judo.
É natural de Almada e entrou tardiamente para o judo com 14 anos, tendo actualmente 29 anos.

Dizem as más línguas que nos últimos dez anos ganhou mais títulos e esteve em mais competições europeias que o Sporting.
Isto não se diz. É muito foleiro... ;)

Grande Telma!


terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Grande Ecrã - Boyhood (Momentos de Uma Vida)


Boyhood é um filme marcante. Talvez mais do que isso. Transcendental.
É um exercício poderoso e inédito de cinema.

Durante doze anos e em segredo, Richard Linklater filmou uma semana por ano. Sempre com os mesmos actores.
Se alguns à partida tinham arcaboiço, a experiência e logo as garantias necessárias para o conseguir fazer, tal como Ethan Hawke e Patricia Arquette, outros foram tiros no escuro.
Os irmãos que quando começaram as filmagens andavam na casa dos cinco ou seis anos, Ellar Coltrane (Mason) e a filha do director, Lorelei Linklater (Samantha) acabaram na casa dos dezoito anos.

Planear um filme a doze anos é obra. Tem que se pensar o argumento em termos de uma palavra chave: evolução.
Evolução à medida que os actores literalmente crescem física e psicologicamente, à medida que evoluem como actores, a evolução do próprio realizador, que o mundo também evolui e se modifica, filmar à medida que a tecnologia que vai rodeando o filme evolui.
Alias é através dos saltos da tecnologia, elegantemente inseridos, que percebemos que o tempo da filmagem deu igualmente o salto.

No entanto Linklater tem que conhecer e pensar com a devida antecedência, que desafios, dúvidas, medos e frustrações enfrenta uma criança até chegar à fase madura.
Isto implica as relações com a família, que está longe de ser estática e estável, as relações entre irmãos, colegas de escola e amores e desamores.
A edição/ montagem é de excelência. Criar uma narrativa coerente ao longo de doze anos não deve ser mesmo fácil.

Ethan Hawke é extraordinariamente estável. Quer ao nível do seu desempenho ao longo do filme - não esquecer que são doze anos - quer ao nível de como (quase não) muda fisicamente durante todo o tempo de filmagem.
Talvez devido a toda esta estabilidade, ele é um elemento interventivo e estabilizador nas vidas dos seus filhos, apesar de ser um pai divorciado, passa aparentemente despercebido nas três horas que o filme dura.

A par de Mason, Patricia Arquete é uma das personagens mais interessante de seguir.
O seu papel enquanto mãe e depois profissional de sucesso, tem avanços e retrocessos. A sua vida psicológica e afectiva é inconstante.
A necessidade de ser mãe e educadora canibaliza durante algum tempo a necessidade de se realizar profissionalmente. Quando decide libertar-se deste colete de forças e assumir a necessidade profissional
 A sua aparência durante o filme sofre alterações significativas. De novo, não esquecer que se trata de um filme que durou doze anos a ser filmado.

Num filme que aborda os clássicos temas de famílias disfuncionais e problemas de adolescência, a câmara de Linklater segue particularmente de perto os irmãos Mason e Samantha, especialmente Mason. É por ele que passa a maior linha condutora do filme, o que é justo.

O Mason de Ellar Coltrane é o que mais evidência a passagem do tempo, a sua evolução como pessoa e actor e por ele passa as maiores mudanças e conflitos entre a criança, puberdade e adolescência. Perdido entre o ser e não ser. É o que tem a lógica de pensamento mais esclarecida e mais consciente de si próprio.
Curiosamente nos primeiros anos mal se nota a evolução física do actor, tornando-se cada vez mais evidente essa mesma evolução nos últimos anos, à medida que o filme se aproxima do seu terminus.

Samantha é a que trás menor valor acrescentado. É uma personagem pouco desenvolvida quer pelo argumento quer por Lorelei Linklater. Carrega em si uma certa monotonia que faz por vezes esquecer que ela existe.

Como exercício de cinema, Boyhood é fascinante. Mas estritamente enquanto argumento e realização, as suas linhas directivas são seguras, constantes, mas normais. Não é por aqui que se destaca.
É pelo novo conceito de cinema que introduz.
Por isso torna-se uma experiência única e absolutamente imperdível. E ficamos na vã esperança que daqui a doze anos surja o Boyhood II.





Um cheirinho de como o filme foi feito através de rápidas entrevistas dadas pelas principais personagens de Boyhood. Entre elas, o realizador.