sábado, 7 de abril de 2012

uma música para o fim de semana - Marta Hugon


Tender Trap em 2005 e Story Teller em 2008 foram os seus primeiros álbuns. Neles, Marta Hugon canta standards de jazz particularmente no primeiro, dedicado ao jazz e à sua gentil armadilha onde ela caiu, reconhece a cantora e no segundo canta também alguns covers de pop.
Admite que Foram uma espécie de ensaio geral, um ganhar confiança e tempo para preparar o seu terceiro álbum e o seu primeiro de originais, lançado em 2011 - A Different Time.

Marta Hugon é pouco conhecida do grande público. Nascida em Lisboa e com um percurso inicialmente orientado para a música clássica e ópera, o interesse pelo jazz surge gradualmente.
Passou pela escola de jazz de Luís Villas-Boas do Hot Club de Portugal onde actualmente ensina.

É no Hot Club que também vai encontrar os músicos que compõem o seu quarteto. Filipe Melo no piano, Bernardo Pereira no contrabaixo e André Sousa Machado na bateria.
Em A Different Time conta ainda com Mário Delgado na guitarra.

Gosto da voz de Marta Hugon. É firme, doce e muito cristalina.
A Different Time tornou-a menos desconhecida do público nacional. Não sendo um álbum de jazz puro e tendo alguns temas virados para o pop, ajudou a divulgar a sua voz.

Swim Slow, o tema que lançou o álbum, mais na linha pop que no jazz, ilustra bem a qualidade da sua voz, umas da melhores do jazz nacional, e da sua música.

E de caminho sugiro uma saltada a Too Close to Comfort do seu primeiro álbum, Tender Trap. Este sim, um tema cheio de jazz. Cinco estrelas!


Bom fim de semana :)




sexta-feira, 6 de abril de 2012

Grande Ecrã - Enter the Void (Viagem Alucinante)


É um filme nada convencional, diria experimental, que oferece a quem o vê experiências visuais bem diferentes do que quem vai ao cinema procura, ou quer. ou espera encontrar.
Toda a sequência inicial do filme, o seu genérico, mostra logo o que temos pela frente.
Enter the void é um filme psicadélico, visualmente alucinado e no entanto fascinante.

Ponho Enter the Void de Gaspar Noé no mesmo saco que Melancolia de Lars von Trier e A Árvore da Vida de Terrence Malick.

É um filme muito simbólico que aborda as grandes questões espirituais da vida ou neste caso da morte.
A passagem pela morte, a entrada no mundo espiritual e o conceito da reencarnação.

Tem por partida para o argumento, o Livro dos Mortos do Tibete, cujo principais conceitos são explicados no início do filme por Alex, um amigo de Óscar.
Após a morte de uma pessoa, a alma separa-se do corpo, assiste ao filme da sua vida e depois se necessário reencarna e inicia um novo ciclo, uma nova vida.

Óscar é um jovem que se movimenta no submundo de Tóquio, consumidor e modesto traficante de drogas psicadélicas, a sua irmã, Linda, é striper num bar.
Após a sua morte na sequência de uma rusga policial no bar The Void, assistimos aos passos preconizados pelo Livro dos Mortos.
Vemos sob o seu próprio ponto de vista, as origens de Óscar, a morte dos pais, a relação com a sua irmã, a promessa que lhe faz, a separação e posterior reunião.

Percebemos que o título Enter the Void, refere-se não só ao medo da morte que a irmã de Óscar tem quando fala com este numa varanda virada para o vazio num prédio de Tóquio, como é o nome do bar onde ele perderá a sua vida, como de alguma maneira retrata a sua vida, ela própria um vazio, que não acrescenta valor à sua vida ou à dos outros.

Não nego que as duas horas e meia de duração, pesam um pouco e são algo excessivas, com planos e segmentos do filme algo enfadonhos, a tornarem-se mais do mesmo.
Não é um filme para toda a gente. A prova foi a meia dúzia de pessoas que saíram da sala, a meio do filme.

Gaspar Noé filma inovadoramente. A cidade de Tóquio é-nos frequentemente mostrada num festim de neons etéreos e espectrais, filma frequentemente e longamente em plongé, utiliza nas deslocações da alma de Óscar sequências que atravessam paredes, tectos, janelas e uma boa parte de Enter the Void está filmado na perspectiva (da alma) de Óscar, tornando também nossa a vida dele

De destacar a longa sequência em que Noé filma o Love Hotel, onde nos são reveladas cenas de sexo praticamente explicito, sem que se torne hardcore ou mesmo softcore, mas sim numa abordagem algo espiritual, onde o sexo surge representado como uma fonte de energia cósmica, uma energia criadora.
Será aqui que Enter the Void acabará. Precisamente no momento em que se concretiza o inicio de um novo ciclo.
Tal como o Livro dos Mortos, segundo as palavras de Alex, preconizava.

Longe de ser consensual, haverá quem o ame e quem o odeie, haverá que adormeça e quem não consiga fechar os olhos, mas mesmo assim, Enter the Void é um filme extraordinário, único e diferente.
Por ser um filme autoral, pela deslumbrante experiência psicadélica que proporciona, por não se ficar indiferente a ele e nem que seja para dizer mal, é um filme que claramente vale a pena ver.

Pessoalmente sou dos que amaram o filme.






domingo, 1 de abril de 2012

compra de fim de semana - Manu Katché





Neighbourhood foi não só uma das grande compras do fim de semana passado, mas também uma das melhores compras de sempre.
É um prazer ouvir e voltar a ouvir este primeiro trabalho (2005) do francês Manu Katché como bandleader para a etiqueta alemã ECM.

Katché tornou-se conhecido no mundo da música como baterista de Sting e de Peter Gabriel, mas a lista de colaborações é extensa: Manu Chao, Dire Straits, Simple Minds, Eurythmics e por aí fora.
Mas outro dos nomes com o qual ele trabalhou foi Jan Garbarek e desde 1989.

E é precisamente com esse mago da ECM que Katché conta na sua formação em Neighbourhood, o saxofone de Garbarek.
Na linha de sopros deste álbum, Katche conta ainda com outro grande músico da família ECM, o trompetista polaco Tomasz Stanko. E estes dois Senhores do jazz europeu são e estão extraordinários.
O pianista Wasilewski e o contrabaixista Kurkiewicz, também polacos, completam o quinteto de Manu Katché, e pertenciam igualmente ao quarteto de Stanko na altura.

Quando ouvi pela primeira vez este álbum e logo nas duas primeiras faixas - November 99 e Number One - a ideia que me transmitiu de imediato foi de um som de jazz sofisticado.
Se tivesse que definir em poucas palavras Neighbourhood, diria que era sofisticado, muito reflexivo, mas cheio de simplicidade e elegância.
E Katché, um baterista, tendo composto todas as faixas deste seu trabalho, surpreende pela integração harmoniosa e completa de todos os instrumentos, onde ele próprio naturalmente está presente, mas sem ser dominante, sem ser "egoísta".


Neighbourhood é um álbum com muito, muito boa onda. É um regresso a casa, onde sem perder a modernidade, o jazz ainda é... jazz.
Vai bem com um dia de sol e vai bem com um dia de chuva.
Tanto pode começar positivamente o dia estando presente no nosso pequeno-almoço, como encerrar a chave de ouro esse mesmo dia, ou, melhor ainda, dar início a uma bela noite.