sexta-feira, 6 de abril de 2012

Grande Ecrã - Enter the Void (Viagem Alucinante)


É um filme nada convencional, diria experimental, que oferece a quem o vê experiências visuais bem diferentes do que quem vai ao cinema procura, ou quer. ou espera encontrar.
Toda a sequência inicial do filme, o seu genérico, mostra logo o que temos pela frente.
Enter the void é um filme psicadélico, visualmente alucinado e no entanto fascinante.

Ponho Enter the Void de Gaspar Noé no mesmo saco que Melancolia de Lars von Trier e A Árvore da Vida de Terrence Malick.

É um filme muito simbólico que aborda as grandes questões espirituais da vida ou neste caso da morte.
A passagem pela morte, a entrada no mundo espiritual e o conceito da reencarnação.

Tem por partida para o argumento, o Livro dos Mortos do Tibete, cujo principais conceitos são explicados no início do filme por Alex, um amigo de Óscar.
Após a morte de uma pessoa, a alma separa-se do corpo, assiste ao filme da sua vida e depois se necessário reencarna e inicia um novo ciclo, uma nova vida.

Óscar é um jovem que se movimenta no submundo de Tóquio, consumidor e modesto traficante de drogas psicadélicas, a sua irmã, Linda, é striper num bar.
Após a sua morte na sequência de uma rusga policial no bar The Void, assistimos aos passos preconizados pelo Livro dos Mortos.
Vemos sob o seu próprio ponto de vista, as origens de Óscar, a morte dos pais, a relação com a sua irmã, a promessa que lhe faz, a separação e posterior reunião.

Percebemos que o título Enter the Void, refere-se não só ao medo da morte que a irmã de Óscar tem quando fala com este numa varanda virada para o vazio num prédio de Tóquio, como é o nome do bar onde ele perderá a sua vida, como de alguma maneira retrata a sua vida, ela própria um vazio, que não acrescenta valor à sua vida ou à dos outros.

Não nego que as duas horas e meia de duração, pesam um pouco e são algo excessivas, com planos e segmentos do filme algo enfadonhos, a tornarem-se mais do mesmo.
Não é um filme para toda a gente. A prova foi a meia dúzia de pessoas que saíram da sala, a meio do filme.

Gaspar Noé filma inovadoramente. A cidade de Tóquio é-nos frequentemente mostrada num festim de neons etéreos e espectrais, filma frequentemente e longamente em plongé, utiliza nas deslocações da alma de Óscar sequências que atravessam paredes, tectos, janelas e uma boa parte de Enter the Void está filmado na perspectiva (da alma) de Óscar, tornando também nossa a vida dele

De destacar a longa sequência em que Noé filma o Love Hotel, onde nos são reveladas cenas de sexo praticamente explicito, sem que se torne hardcore ou mesmo softcore, mas sim numa abordagem algo espiritual, onde o sexo surge representado como uma fonte de energia cósmica, uma energia criadora.
Será aqui que Enter the Void acabará. Precisamente no momento em que se concretiza o inicio de um novo ciclo.
Tal como o Livro dos Mortos, segundo as palavras de Alex, preconizava.

Longe de ser consensual, haverá quem o ame e quem o odeie, haverá que adormeça e quem não consiga fechar os olhos, mas mesmo assim, Enter the Void é um filme extraordinário, único e diferente.
Por ser um filme autoral, pela deslumbrante experiência psicadélica que proporciona, por não se ficar indiferente a ele e nem que seja para dizer mal, é um filme que claramente vale a pena ver.

Pessoalmente sou dos que amaram o filme.






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