terça-feira, 18 de março de 2014

introdução à Trilogia da Dor





Há dor física, a dor do corpo.
Conhece-mo-la bem, conhecemos as suas causas, é-nos familiar. Ela pode ser suave ou violenta, estar mais ou menos presente, estar mais ou menos visível, durar mais ou menos tempo. Muitas vezes ultrapassa-se. Com mais ou menos analgésicos, com mais ou menos cuidados paliativos.
Na pior das hipóteses habituamo-nos a ela.

Depois há a dor da alma. Ela transveste-se de várias roupagens.
A dor dos porquês, a dor da incompreensão, a dor da saudade, a dor da fatalidade, a dor da perda, que muitas vezes provoca também a nossa própria perda. É sempre violenta, saturante, cansativa. Ultrapassa-se mas não passa.

Com o tempo habituamo-nos a ela. Mas é permanente. Vive connosco dia e noite. Deitamo-nos com ela e acordamos com ela, mas muitas vezes por ela não dormimos. Corrói-nos, tira-nos o discernimento, o bom senso, a capacidade de pensar e agir. Ficamos sós, inquietos, perdidos no mundo e às vezes até no nosso próprio mundo.
Olhamos à volta e desenquadrados não percebemos o que se passa. O mundo passa por nós, mas nós não passamos por ele ou com ele. Não percebemos porque as pessoas são capazes de falarem umas com as outras, de ir às compras, de viver e de rir.

Ela trás o passado de volta ao presente. Desperta os nossos demónios adormecidos. Primeiro um, depois o segundo, depois um outro, depois outro e outro e outro e depois... todos.
Ficamos exangues, atormentados e desesperados. É a trilogia da dor. Caímos num poço de fundo bem negro.
Mas essa também é vantagem de bater no fundo, podemos usá-lo para nos impulsionar de novo para cima. Aqui temos que nos socorrer do arquivo das coisas belas que estão na nossa memória.

É altura de ir buscarmos um sorriso, uma cor, uma paisagem, uma esperança. Procurar uma música, a nossa música e com sorte encontrar o abraço certo, um ombro que oiça mas que não pergunte e onde as lágrimas possam correr livremente.
É aquele ponto de apoio que aliviará o esforço que os pés e mãos que vão subir pela parede do negro poço que nos trará de volta ao mundo.

Tentarei mostrar isto mesmo, ao longo desta semana. nos próximos três poemas que constituem esta trilogia. A terceira parte será postada no dia mundial da Poesia, no próximo dia 21 de Março.


Inkheart


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