quarta-feira, 28 de junho de 2017

os blues de Bluesnik


Dizem que das várias sessões que o altoista Jackie McLean gravou para a etiqueta norte-americana Blue Note, a que deu origem a Bluesnik, é a mais acessível.

Será como a Metamorfose de Kafka. Para alguém cruzar a porta de entrada do universo kafkiano, costumo sugerir a Metamorfose.
Quem gostar deste conto deste escritor nascido em Praga, certamente que se sentirá com vontade de explorar as obras mais complexas e densas dele.
E nem de longe, nem de perto, se pode pensar que Metamorfose é uma obra menor do escritor e contista checo.
Bem pelo contrário, é uma obra prima.


O mesmo acontece com Bluesnik do saxofonista alto Jackie McLean.
É fácil e seguro dar este passo inicial em direcção ao universo musical de McLean.
De facto é um dois em um. É um álbum de blues em formato jazz muito orelhudo e acessível.

A composição do quinteto é estelar. Freddie Hubard estava num crescendo de forma para o génio trompetista que se iria tornar, o pianista Kenny Drew já não deixava dúvidas nenhumas sobre o pianista influente que era, Pete La Roca, era um baterista perfeitamente consolidado e o contrabaixista Doug Watsson, um dos Jazz Messengers era bastante requisitado como sideman dos grandes jazzmen da altura. Iria morrer quase um ano depois de ter gravado Bluesnik, apenas com 27 anos, numa colisão com um camião quando adormeceu ao volante do carro que conduzia.


O dilema é velho de décadas, entre os que defendem que Bluesnik é o melhor trabalho de sempre de e os que afirmam que Let Freedom Ring é o melhor que se pode encontrar na sua obra.
A revista Jazzwise em 2010 coloca-o na posição 89, nos 100 discos mais influentes de sempre da história do jazz. Bluesnik não surge nesta compilação. Como qualquer compilação, lista ou escolha, terá sempre uma forte componente subjectiva, por muito bem que ela esteja fundamentada ou suportada.

Mas se sentirem tentados a irem directo ao número 89 da lista, passem por primeiro por Bluesnik.
Se Let Freedom Ring é mais selvagem, pouco contido, exuberante, mais exigente, o segundo, Bluesnik, é mais melodioso, harmonioso, mais fácil de seguir, de sermos levados com ele e por ele.

Goin' Way Blue, o segundo tema de Bluesnik é isto tudo.
É fácil de gostar, muito cool, e ao mesmo tempo é música de primeira água. Imprescindível em qualquer colecção de jazz, sejam ou não apreciadores de Jackie McLean.







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