segunda-feira, 21 de março de 2011

um poema de... Alberto Caeiro (no dia mundial da Poesia)


Quando penso em poesia, o nome de Fernando Pessoa surge de imediato.
Fascina-me a diversidade da sua personalidade que o levou a desdobrar-se em vários poetas. Cada um deles com personalidades, biografias e estilos literários bem diferentes entre si.

Entre os principais heterónimos criados, Alberto Caeiro destacou-se e aproximou-se de mim de uma maneira muito diferente dos restantes.


Atraía-me a simplicidade da sua linguagem, a sua maneira inocente e descomplexada de ver e sentir o mundo. Era o poeta do bucolismo, do paganismo, da natureza, dos sentidos e das sensações. Rejeitava a filosofia, aceitava e encarava a morte como algo natural.
Vivia o dia a dia despreocupadamente, sem pensar o futuro, as causas ou o porquê das coisas.

“pensar é não compreender”

“Eu não tenho filosofia, tenho sentidos…”

De acordo com a biografia Fernando Pessoa lhe atribuiu, Alberto Caeiro da Silva nasceu em Lisboa a 16 de Abril de 1889 e morreria na mesma cidade em 1915. Morreu jovem, de tuberculose, com 26 anos.
Sem profissão, tinha apenas a instrução primária. Os seus pais morreram cedo e viveu quase toda sua vida no campo com uma tia avó.
Álvaro de Campos, Ricardo Reis e o próprio Fernando Pessoa assumem-se como seus discípulos.

Hoje, no dia mundial da Poesia, substituo o ortónimo Fernando Pessoa pelo heterónimo Alberto Caeiro e celebro este dia com um dos seus poemas mais bonitos e também um dos que melhor espelham a sua personalidade e (a não) filosofia de vida.


Quando vier a Primavera
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada
A realidade não precisa de mim.

Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma

Se soubesse que amanhã morria
E a Primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.

Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é.

Alberto Caeiro


texto publicado na revista de artes online Textualino

1 comentário:

  1. Pois eu quando penso em poesia dois nomes ocorrem-me imediatamente António Nobre ou Florbela Espanca!

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