Eu tenho uma dívida de gratidão com Lídia Jorge.
Há 25 anos atrás, no Liceu de Queluz, Lídia Jorge era minha professora de português e apresentava pela primeira vez um poema de um autor que não conhecia até então.
O poema era um pouco estranho para mim, mas havia algo nele que me atraía. Ele "falava" comigo.
A professora veio em minha ajuda e explicou que era sobre a simplicidade da vida, a obediência ao inevitável destino e algo que era muito típico encontrar neste poeta: o paradoxo e o tormento interior.
O poema era este:
Gato que brincas na rua
Invejo a sorte que é tua
Porque nem sorte se chama.
Bom servo das leis fatais
Que regem pedras e gentes,
Que tens instintos gerais
E sentes só o que sentes,
És feliz porque és assim,
Todo o nada que és é teu.Eu vejo-me estou sem mim,
Conheço-me e não sou eu.
O seu autor é Fernando Pessoa, e é desde então o meu poeta preferido. Sempre com a clara sensação que ele escreve para mim.
Dizem que é um dos maiores poetas nacionais. Não concordo. Ele é os quatro maiores poetas nacionais.
A 29 de Novembro de 1935 Fernando Pessoa escreve sua última frase, a lápis e em inglês, dizia:
I know not what tomorrow will bring - não sei o que o dia de amanhã trará.
Trouxe-lhe a morte. Morreu no dia seguinte a 30 de Novembro de 1935 com 47 anos, no hospital São Luís dos Franceses em Lisboa, vítima de uma cirrose hepática.
Faz hoje 75 anos.
Mas como escreveu o heterónimo Álvaro de Campos “morrer é só não ser visto”.
Mas como escreveu o heterónimo Álvaro de Campos “morrer é só não ser visto”.
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