terça-feira, 30 de novembro de 2010

Fernando Pessoa - 75 anos de eternidade

Eu tenho uma dívida de gratidão com Lídia Jorge.
Há 25 anos atrás, no Liceu de Queluz, Lídia Jorge era minha professora de português e apresentava pela primeira vez um poema de um autor que não conhecia até então.

O poema era um pouco estranho para mim, mas havia algo nele que me atraía. Ele "falava" comigo.
A professora veio em minha ajuda e explicou que era sobre a simplicidade da vida, a obediência ao inevitável destino e algo que era muito típico encontrar neste poeta: o paradoxo e o tormento interior.

O poema era este:

Gato que brincas na rua
Como se fosse na cama,
Invejo a sorte que é tua
Porque nem sorte se chama.

Bom servo das leis fatais
Que regem pedras e gentes,
Que tens instintos gerais
E sentes só o que sentes,

És feliz porque és assim,
Todo o nada que és é teu.
Eu vejo-me estou sem mim,
Conheço-me e não sou eu.


O seu autor é Fernando Pessoa, e é desde então o meu poeta preferido. Sempre com a clara sensação que ele escreve para mim.
Dizem que é um dos maiores poetas nacionais. Não concordo. Ele é os quatro maiores poetas nacionais.

A 29 de Novembro de 1935 Fernando Pessoa escreve sua última frase, a lápis e em inglês, dizia:
I know not what tomorrow will bring - não sei o que o dia de amanhã trará.
Trouxe-lhe a morte. Morreu no dia seguinte a 30 de Novembro de 1935 com 47 anos, no hospital São Luís dos Franceses em Lisboa, vítima de uma cirrose hepática. 
Faz hoje 75 anos.

Mas como escreveu o heterónimo Álvaro de Campos “morrer é só não ser visto”.


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