quarta-feira, 10 de novembro de 2010

7%

Terá sido o fantasma de ter o FMI a entrar no país que encorajou, mais que outro qualquer motivo, o entendimento entre PSD e o governo para a aprovação do OE de 2011. Não tenho muitas dúvidas sobre isto.

Declaradamente é um orçamento não consensual. Foi forçado pelas circunstâncias e pela necessidade, apresentado com falta de convicção, em que só verdadeiramente um partido, o do governo, apoiou.
Assim que o acordo foi atingido, cada um dos líderes responsáveis por ele, foi para o seu canto da arena política continuar os ataques políticos e verbais, como se nada tivesse acontecido. Sem mostrar a esperada cooperação institucional após o acordo.
É portanto um orçamento que não convenceu os portugueses, e muito menos os mercados financeiros internacionais. Não uniu a classe política em torno dele, quando isto era o que mais necessitava o país.

A consequência é a falta de credibilidade que Portugal actualmente tem junto da banca internacional. O que por sua vez causa a dificuldade que sente em financiar-se, em existir uma entidade financeira que confie no país para emprestar dinheiro e posteriormente confiar que vamos pagar as dívidas que foram contraídas.
Os mercados financeiros já praticamente não o fazem.
Neste momento apenas o BCE e a banca nacional o estão a fazer. E cada vez menos.

Quando o FMI for chamado - tem que ser chamado por um estado membro, caso contrário não intervém - e equilibrar as contas públicas, emprestando dinheiro, e há quem afirme que a questão não é, se vai ser chamado, mas sim quando vai ser chamado, vai pedir o mesmo que este OE prevê ou que já não se esteja a ser pensado em futuros PECs.
Aumento de impostos, redução dos salários da função pública, redução da despesa e do investimento público, alteração da legislação laboral, sem mencionar as (já sussurradas) reduções dos subsídios de férias e Natal, fazem parte da receita habitual do FMI.
Mas vai fazê-lo cortando a direito e no imediato. Impondo regras e condições. Autoritário.
Espera-se também vá para além disso, que acabe com os excessos e mordomias do Estado e seus satélites que corroem financeiramente o sistema. Que minimize a corrupção. Que moralize a política nacional. Porque só eles o podem fazer. Uma entidade exterior ao país. "Santos da casa não fazem milagres" diz o povo.

Teixeira dos Santos afirmou que se os juros atingissem os 7% consideraria a hipótese de chamar o FMI.
Mas recentemente Sócrates fez questão de dizer que chamar o FMI não é opção e Vieira da Silva afirmou que rejeita o limite dos 7% para o fazer.
Sendo um acto (desesperado) de confiança no actual governo, e uma tentativa de fuga à fraca imagem que passará para o exterior por parte de quem governa, pode ter um custo muito elevado.


Quanto mais tarde se der sinais de evolução, mais os juros vão continuar a subir, tal como está a acontecer agora e tornar a situação insustentável para o país a médio prazo. Quer por incapacidade de financiamento, quer por falta de cumprimento face aos cada vez mais altos juros que terão de ser pagos.
E aqui, a possibilidade de a China comprar a dívida portuguesa, que vai ser colocada à venda hoje, a última emissão deste ano, pode vir a dar uma ajuda a Sócrates. Um balão de oxigénio para os próximos meses.

Já que o Orçamento de Estado para 2011 foi aprovado, seria bom se tal não acontecesse. Mostraria a toda a gente que seríamos coerentes, que seríamos capazes de gerir os nossos destinos, as nossas finanças e economia.
Mas Portugal vive igualmente uma crise política, ou está muito próximo de uma, o que não dá confiança a ninguém e neste momento é uma presa ferida a debater-se e isso só atiça ainda mais os predadores.

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