Vinte anos depois podiam ter feito melhor, podiam ter saído de uma forma mais elegante, mais útil, mais honrada, de uma forma que não desperdiçasse vinte anos de mortes de ambos os lados.
No fundo deixam, fogem do Afeganistão sem deixar obra feita, sem deixar concretizado aquilo que se propuseram: organizar, pôr de pé um país torturado pela dor, pela intolerância religiosa e sem respeito pelos direitos humanos e particularmente pelo direito das mulheres.
Afirmam que um dos seus objectivos era evitar que o Afeganistão se tornasse uma base para os terroristas e que o tinham conseguido ao incapacitar severamente a Al-Qaeda. Sim, de facto. Mas na verdade, no fim falharam redondamente ao fugirem de Afeganistão.
Arriscam-se a que se torne uma de novo. Se não para Al-Qaeda, que pode aproveitar a situação para recuperar, e não é difícil pensar novamente no Daesh-K, outra poderá vir no seu lugar. O Afeganistão poderá tornar-se num fecundo berço para novas facções terroristas.
Quando o alto representante para a diplomacia da UE, Josep Borrel, afirma que os talibãs ganharam a guerra do Afeganistão e que agora teremos que negociar com eles, algo de terrível aconteceu. Os EUA deveriam sentir neste momento um peso tremendo de consciência, ter a certeza que algo profundamente errado fizeram.
Agora a UE tem vários papeis a desempenhar. Político, diplomático e um outro pelo qual infelizmente que não tem conseguido ter sucesso. Receber, ajudar, aceitar quem vem de um país mergulhado no caos, na auto-destruição.
A experiência vinda do Mar Mediterrâneo, onde ocorrem ano após ano centenas de mortes, não são bons sinais de que saiba receber, de quem quer receber refugiados afegãos. Itália, Grécia, Austria estão já de portas fechadas para a enorme crise humanitária que está prestes chegar vinda do Afeganistão.
A própria UE prefere apoiar, palavra cínica para subsituir a palavra pagar, outros países para os receber.
Por todo o lado a islamofobia irá grassar de uma forma ainda mais acentuada. E nós, europeus, ditos civilizados, enfermamos da mesma intolerância religiosa.
A fotografia mostra 640 pessoas amontoadas no interior de um avião C17.
Tristes tempos estes.
Subscrevo na íntegra. Saída fracassada
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