Labiríntico, certamente tortuoso, obscuro sem dúvida nenhuma e tão, tão fascinante!
Albergava uma multidão de personagens, de poetas. Um universo de universos. Universal, portanto.
Era um plural. Sobre isso afirmou:
"Sê plural como o Universo"
O tal poeta que escrevia a pensar em mim, em todos nós. Que nos compreendia, sem que nós o soubéssemos.
No dia mundial da Poesia que poeta torna a palavra mundial tão pequena, tão mensurável, tão vocabular??
Fernando Pessoa, claro.
Não sei quantas almas tenho
Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: “Fui eu?”
Deus sabe, porque o escreveu.
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