O corpo humano é gracioso, é harmonioso. Particularmente o feminino.
As sua curvas fluidas tornam-no especialmente elegante, delicado e dinâmico.
Tem uma aura de sensualidade e serenidade.
Saber captar essa elegância é uma arte: o nu. Sensualidade, sim, erotismo, sim. Luxúria, lascívia, certamente. Ou não fosse este um dos sete pecados com maior predilecção entre a Humanidade.
A indecisão volátil entre o prazer e a vergonha, o voyeurismo permitido e até desejado.
Um nu bem pintado, esculpido ou fotografado é uma lição de arte de representação, de imaginação.
Enquadra um modelo estético, em vigor na altura, ou o modelo estético de quem se dedicou a representá-lo.
Quer seja um corpo de curvas apertadas e contidas, extrovertidas e espaçosas, angulosas e rudes, ou ainda como actualmente, desenhadas digitalmente e pouco genuínas.
Existem ícones de nus como a Origem do Mundo de Gustav Courbet, ou os nus agressivos e desproporcionados de Egon Schiele.
A estas obras de arte, pessoalmente, falta-lhes o implícito, a delicadeza, o toque do veludo. É a verdade nua e crua de um nu. Nada a esconder, tudo a mostrar. Mas plenos desse tal pecado saboroso que consta da lista dos sete pecados mortais.
As esculturas de Auguste Rodin - Toalete de Vénus e Andrómeda - e Antonio Canova - As Três Graças - são o oposto de Coubert e Schiele.
É nos mostrada a suavidade dos corpos, a gentiliza dos materiais usados, as poses inspiradoras das personagens femininas prontas a querem, a desejarem ganhar vida perante os nossos olhos.
Terá começado como uma representação da Deusa Mãe, a Terra, aquela que tudo dá e tudo proporciona.
Ou até, como uma oração aos Deuses, para obtenção da abundância, fertilidade,
A Mulher de Willendorf é uma pequena (pouco mais de onze centímetros de altura) estátua de calcário, datada entre os vinte mil a trinta mil anos antes de Cristo, bem dentro do período do paleolítico superior. Uma representação de uma mulher nua que se crê estar associada aos rituais de fertilidade.
Vénus de Milo, a famosa estátua grega, seminua e sem braços, encontrada na cidade de Milo está datada aproximadamente do sec II aC.
Dando um salto na geografia até França e no tempo de vários milhares de anos até 14 de Agosto de 1934, assistimos ao nascer do fotógrafo francês Lucien Clergue.
Entre as várias áreas da fotografia que se dedicou, a de nus ganhou uma especial relevância no seu trabalho.
As suas fotografias de nus fazem a fusão do corpo com o espaço que o rodeia, que o contextualiza.
Uma praia de paisagem rochosa, de formas redondas e suavizadas pela erosão dos elementos.
Lucien insere literalmente os modelos femininos nesta paisagem. Contrapõe a suavidade quente e macia do corpo, à suavidade rígida e fria dos seixos.
A eles, os seixos, Lucien Clergue atribui-lhes a carícia e a pertença mútua.
Os dois coexistem nos cenários, o corpo e a paisagem, que lhes são atribuídos.
Uma partilha e interacção mutua de identidades e consciências.
Elas nasceram ali e para si, Um para outro. Um sem outro tornam-se individualidades vazias e sem sentido. Assim fotografou Lucien Clergue.
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