Talvez não haja beijo mais puro que um beijo na face.
Não tem o erotismo do beijo nos lábios, nem procura o excesso das línguas que dançam quando se encontram.
Não é espartano como o beijo na testa, nem possui a formalidade distante de um beijo na mão.
É o mais romântico deles todos.
Mas também tem que se lhe diga. Não é aquele beijo de rotina que se dá na cara, do cumprimento, de um olá ou de um adeus.
É o beijo na face. Mas sentido. Sente-se nele o calor prolongado do carinho dos lábios que transmitem à nossa pele.
É um beijo que não se afunda na face, nem apenas a aflora. Não é efémero, nem se agarra ao rosto como uma lapa à rocha. Tem a pressão e a duração perfeita.
Há uma intenção declarada nele. Só se dá na face certa. Aquela face. Naquele momento.
É um beijo que marca indelevelmente mas sem no entanto deixar marcas visíveis em quem o recebe.
Não é um beijo desinteressado, é um beijo dedicado. Não tem segundas nem terceiras intenções. Só primeiras.
Quem dá e quem recebe fá-lo de olhos fechados. É para ser saboreado. Não é dado para ser visto ou, friamente recebe-lo enquanto distraidamente se vai olhando para todos os lados.
Este beijo perfeito sela momentos, eterniza na memória o instante em que o recebemos. É um contrato que honra as duas partes.
Podemos dizer com ele o que a alma quer, mas é também e subtilmente um beijo de agradecimento.
Um simples mas sentido "muito obrigado", um reconhecido "obrigado por tudo que me dás", o beijo de adeus mas "não me vou embora, estarei sempre aqui", o beijo doce e sincero do "gosto muito de ti", o beijo do "ainda bem que estás aqui comigo" e o sempre desejado "por tudo o que és para mim".
É um tipo de beijo que se dá no secretismo da solidão, na companhia de uma paisagem, no conforto de um quarto no fim da cumplicidade a dois.
Este beijo que não sabemos que o vamos dar na face de alguém até ao momento em o damos, ou que nos apanha de surpresa quando nós o recebemos, é uma raridade.
Espectacular
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