A letra é densa e complexa, mas repleta de delicadeza como um dente de leão quando é soprado por uma brisa gentil.
Quando o dia entardeceu
E o teu corpo tocou
Num recanto do meu
Uma dança acordou
E o sol apareceu
De gigante ficou
Num instante apagou
O sereno do céu
E a calma a aguardar lugar em mim
O desejo a contar segundo o fim.
Foi num ar que te deu
E o teu canto mudou
E o teu corpo do meu
E uma trança arrancou
O sangue arrefeceu
E o meu pé aterrou
Minha voz sussurrou
O meu sonho morreu
Dá-me o mar, o meu rio, a minha calçada.
Dá-me o quarto vazio da minha casa
Vou deixar-te no fio da tua fala.
Sobre a pele que há em mim
Tu não sabes nada.
Quando o amor se acabou
E o meu corpo esqueceu o caminho onde andou
Nos recantos do teu
E o luar se apagou
E a noite emudeceu
O frio fundo do céu
Foi descendo e ficou.
Mas a mágoa não mora mais em mim
Já passou, desgastei, pr'a lá do fim
É preciso partir
É o preço do amor
Pr'a voltar a viver
Já nem sinto o sabor
A suor e pavor
Do teu colo a ferver
Do teu sangue de flor
Já não quero saber...
Dá-me o mar, o meu rio, a minha estrada,
O meu barco vazio na madrugada
Vou-te deixar no frio da tua fala
Na vertigem da voz quando se enfim se cala
A voz de Márcia não fica atrás da letra e a voz grave e arrastada de JP Simões é o contraponto ideal à voz da sua parceira, completando e complementando-a sem no entanto destoar ou perturbar o ambiente que esta música tem, muito pelo contrário.
A guitarra está de igual para igual com as vozes e a letra, subtil e igualmente delicada. Que grande música!
Bom fim de semana :)
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