domingo, 27 de maio de 2012

compra (muito atrasada) de fim de semana - Carlos Martins


Confio frequentemente nas aparências.
Por vezes um filme que me é desconhecido atrai-me apenas porque tem um poster que está bem desenhado, tem um conjunto de cores ou uma fotografia especialmente apelativa ou até porque tem um motivo elegante. 
O mesmo acontece com a capa de um livro ou cd.


Numa das minhas compras de jazz que usualmente faço ao fim de semana (esta foi em Fevereiro), mas que na altura não escrevi sobre ela aqui, encontrei o cd Água de Carlos Martins.
O que me atraiu nele e me motivou a ouvi-lo foi a simplicidade da fotografia da sua capa.

Um anel de água interrompido aqui e ali num tampo aparentemente envidraçado.
Como se alguém tivesse pousado uma garrafa ou um copo com o fundo molhado numa superfície de vidro acastanhada.

Na altura era bastante desconhecedor do jazz nacional e o nome de Carlos Martins que estava na capa não me disse nada.
Ao contrário da música, que me pareceu muito melódica, muito sentida, homogénea e controlada. Sem fraseados muito longos e complexos. Quando o ouvi fez-me pensar se não teria influências de Sonny Rollins e John Coltrane na sua fase de cool jazz e modal.
A compra foi inevitável.

Sei agora que Carlos Martins foi um dos primeiros músicos a abraçar o jazz profissionalmente e a utilizar o seu saxofone como instrumento de trabalho, tendo sido aluno da escola de jazz do Hot Clube de Portugal, tornando-se depois docente na mesma.
É um compositor versátil, escrevendo para ballet, teatro e cinema e teve ainda participação na iniciativa que levaria com sucesso a que o fado fosse considerado património imaterial da humanidade.

Água foi considerado o melhor álbum de jazz nacional do ano 2008 e Carlos Martins dificilmente juntaria um naipe de músicos de jazz melhor que aqueles que tem no seu quinteto.
Para além do próprio Carlos Martins no saxofone tenor, participam ainda Alexandre Frazão na bateria, Nelson Cascais no contrabaixo, André Fernandes na guitarra e dependendo dos temas, Bernardo Sasseti alterna com Júlio Resende no piano.

Mas confesso que é sempre com uma certa pena que na bonita faixa que encerra o álbum, Meados de Maio, quando pensamos que já está tudo acabado e nos preparamos para colocar outro cd no leitor, insolitamente, saindo do nada e sem motivos para tal, ouve-se a voz de Pacman a declamar um poema inconsequente.
Uma colaboração desnecessária.




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