segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Grande Ecrã - Inquietos (Restless)


As imagens iniciais de Inquietos, o jovem Enoch (Henry Hopper) a traçar o seu contorno no preto alcatrão a giz branco como se morto estivesse, dão logo o mote para o tema que domina o filme: a morte.

Poucos minutos mais tarde sabemos também que Enoch tem uma estranha necessidade de frequentar funerais de estranhos e que tem um fantasma, um piloto kamikaze que se chama Hiroshi.

Num desses funerais, Enoch, que perdeu ambos os pais num acidente de automóvel e ele próprio ficou em coma, conhece Annabel (Mia Wasikowska), uma jovem com um cancro no cérebro e com poucos meses de vida.
Naturalmente os dois vão-se aproximar e depois apaixonar.

Escrito desta maneira, Inquietos parece mórbido, intragável, piegas e lamechas, bom para lágrimas fáceis.
Mas não, longe disso. Talvez ocasionalmente o realizador Gus van Sant trilhe esse caminho, mas sai dele rapidamente. 

Inquietos é acima de tudo uma reflexão sobre a relação vida e morte vista pelos olhos de duas pessoas que sabem que o destino final está traçado.

A morte é pensada de uma maneira natural quase desapaixonada apesar da evidente angústia que a perda de Annabel provoca em Enoch e que a vida deve ser aproveitada dia a dia. Sentindo cada dia que amanhece é um motivo de alegria.
Annabel revê-se neste ponto sempre que menciona as aves canoras que pensam que vão morrer ao pôr-do-sol mas que de manhã cantam de felicidade quando percebem que estão vivas.
Este é um dos pontos da dualidade que está presente na personagem de Mia Wasikowska, tanto procura a vida, como apoiada em Enoch, encena e ensaia a sua própria morte, preparando-se para ela.

Hiroshi, o divertido mas sensato fantasma que só Enoch vê, tem um papel aparentemente secundário, mas no fundo é um guia para Enoch e percebemos já no fim do filme que o será também para Annabel.

Inquietos, não é filme romântico, apesar de ser fácil lê-lo desa maneira, vive muito naturalmente da cumplicidade e relação das personagens e os diálogos são pontuados por um humor obviamente negro. 
Não tem uma grande dinâmica, dificilmente se aborda esta temática como se tratasse de um filme de acção, mas tem a necessária para nos manter interessados.

Tem o mérito de nos fazer sair da sala a pensar em alternativas, se ao fim será mesmo o fim ou se haverá um recomeço.




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