terça-feira, 13 de setembro de 2011

Grande Ecrã - Vénus Negra


Quando saí da sala de cinema dei por mim a pensar na violência que terá sido para Yashima Torres filmar Vénus Negra e se o realizador Abdellatif Kechiche não teria outra maneira de filmar.
Foi um papel que imagino tenha sido difícil para Yashima Torres.

Para desempenhar Saartjie/ Sarah Baartman, teve que se expor não só fisicamente como mentalmente. É um papel que essencialmente vive da humilhação nestas duas vertentes.
É uma constante ao longo de todo o filme.


Talvez seja o único ponto focal de todo o filme. A dimensão humana de Saartjie é quase esquecida ou pelo menos é mal abordada.

Baseada em eventos verídicos e que se passa no início do século XIX, Vénus Negra conta a história de Sarah "Saartjie" Baartman, uma representante da tribo sul-africana Hotentote, que se destacava pela exuberância e voluptuosidade das suas formas femininas.
Com esta diferença em mente, o patrão Caezar (Andre Jacobs) - Sarah era criada na sua família - monta um espéctaculo circense que explora simultaneamente a ignorância europeia - primeiro Londres e depois Paris - e o corpo de Saartjie como uma aberração, expondo-o a seu bel-prazer ao público, mesmo quando esta manifesta o seu (pouco convincente) desagrado.

Em dados momentos Kechiche filma de uma maneira chocante e humilhante. Fazendo-o por vezes de uma maneira igualmente excessiva, dando a sensação de falta de subtileza, optando pelo mostrar em detrimento do sempre mais eficaz insinuar.
Assim Yashima Torres tem quase um desempenho duplo. É de tirar o chapéu pela sua total disponibilidade para a exigência do papel que desempenha, mas por outro lado não consegue capitalizar para si e para a sua personagem a comoção do pública, apesar de naturalmente ter a sua simpatia.
Bem pelo contrário, Andre Jacobs pelo papel do explorador e pouco escrupuloso Caezar e Olivier Gourmet no papel do lascivo e repugnante Réaux, têm os melhores desempenhos do filme.
Será através deste último, que a Vénus de Hotentote é iniciada na prostituição, morrendo posteriormente, sozinha e na miséria de uma doença infecciosa.

Quando no fim do filme e em jeito de documentário assistimos à solenidade da chegada dos seus restos mortais ao seu país, África do Sul, ficamos sem saber o porquê daquela distinção.
Certamente que ao longo da história e até nos dias de hoje, situações tristes como as de Saartjie são infelizmente comuns.
Fica um pouco no ar a curiosidade de saber o que terá acontecido após a sua morte que lhe conferiu essa importância.



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