segunda-feira, 7 de março de 2011

Grande Ecrã - 127 Horas



Em Abril de 2003 eu estava em Marrocos a escalar no Alto Atlas, quando no grupo no qual eu me integrava soube da história de Aron Ralston.
A conversa durante alguns dias caiu nele. Como seria lidar com a claustrofobia de um canyon, como seria lidar com o desespero da solidão, que limites seria necessário chegar e ultrapassar para tomar a decisão de decepar o próprio braço.
Havia uma grande empatia e admiração para com este homem, um colega de aventuras.

Portanto já sabia que 127 Horas iria mexer comigo da mesma maneira que um outro filme igualmente impressionante mexeu. O tema era também a resistência física e determinação mental de uma pessoa decidida a sobreviver a todo o custo quando a montanha a coloca à aprova. Refiro-me a Touching the Void de Kevin Macdonald.

Toda a gente sabe como o filme acaba, toda a gente sabe que ele fica sem o braço e sobrevive.
Igualmente toda a gente sabe que é ele que corta o seu próprio braço, que esta cena é dura e quase toda a gente que vai ver este filme vai por causa disso.
O que é um erro porque arrisca-se a passar ao lado da essência do filme: a incrível resistência física e mental de Aron Ralston e a determinação que demonstrou ao enfrentar toda aquela provação sozinho. Sem apoio e sem comunicações.
Até porque se fecharmos os olhos durante os cinco minutos que dura esta cena, rigorosamente não se perde nada do filme.

O filme começa a "abrir", como se tratasse de um filme de acção. Cenas rápidas, dinâmicas, com inúmeros splitscreens. Espaços abertos, grandes paisagens. Uma boa introdução à vida de Aron Ralston (James Franco). Energética e cheia de vida.
Premonitórios os planos em que se vê uma torneira a pingar água quando Aron sai de casa após encher o seu cantil e quando se esquece do seu canivete suiço no armário.
À medida que o filme se desenrola vai abrandando para se concentrar cada vez mais na personagem e no terrível drama de Aron.
Saindo dele, apenas para ilustrar com flashbacks as suas alucinações ou episódios da sua vida.

Danny Boyle a partir de um drama pessoal que se baseia no imobilismo de alguém que fica com um braço preso a uma rocha durante uma escalada e num espaço claustrofóbico (um fundo de um canyon) consegue filmar com dinâmica e manter a nossa atenção tensa e focada em James Franco sem nos saturar.
As cenas que nos permitem ir seguindo o diminuir da água no seu cantil estão bem conseguidas, bem como os planos em que já sem água, decide tomar medidas mais extremas para garantir a sua sobrevivência.
Isto sem mencionar claro, toda a sequência de decepação do braço do escalador.

James Franco é o one man show do filme. A colagem que fez a Aron Ralston é tremenda. É possível encontrar no youtube (ver e ler aqui) alguns trechos das filmagens originais que o alpinista fez com a sua câmara enquanto esteve preso no rochedo e a semelhança é notável.
É justa a sua nomeação para os óscares por lhe ter dado o devido reconhecimento do grande público, mas tendo sido também justo o facto de não o ter ganho. Colin Firth e Jeff Bridges foram superiores.

Indo para além do argumento, realização ou da grande performance de James Franco, 127 Horas tem uma grande mérito.
Narra fielmente a história de um sobrevivente de uma experiência que muitos de nós não consegue imaginar verdadeiramente - 127 horas foi o tempo que Aron Ralston passou preso à rocha. Mais de cinco dias! - sem no entanto o tornar num mártir ou num "coitadinho", alguém de que se fica com pena.
Mas sim alguém que é merecedor da nossa incondicional admiração.




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