domingo, 9 de janeiro de 2011
Grande Ecrã - O Mágico
Dificilmente teria escolhido um melhor filme para começar 2011 que O Mágico de Sylvain Chomet.
É um filme de animação nostálgico e melancólico. Enternecedor. Um filme de época dos anos 50 que cheira deliciosamente a pó.
O argumento é de Jacques Tati, escrito em 1956 e nunca tinha sido anteriormente passado para o grande ecrã.
Conta a história de um mágico francês alto e desengonçado, Jacques Tatischeff - nome próprio de Jacques Tati e cujos traços foram baseados igualmente na sua figura - em fim de carreira, ultrapassado pelo advento da cultura rock/pop, que se retira dos grandes palcos franceses.
Como ele está um palhaço que se tenta suicidar, um ventríloquo que não consegue vender o seu boneco e um grupo de acrobatas que tem procurar alternativas de trabalho.
Para sobreviver, enceta uma viagem que o leva para Londres, passa pela Escócia e acaba na cinzenta e chuvosa Edimburgo.
Pelo meio vai dignamente actuando num mundo poeirento e bafiento de salas de espectáculos secundárias, bares e cafés, festas de jardins e pequenas lojas.
Numa pequena ilha na Escócia conhece uma rapariga que foge de casa para o seguir. O mágico adopta-a e protege-a e as suas vidas mudam-se pouco a pouco. Ele tem que entrar na vida real e aprender outro tipo de trabalhos, bem longe do seu dia a dia habitual e para o qual não está talhado.
O que é marcante neste filme é as suas cores e simplicidade da sua animação e dos seus planos. É uma animação em estado puro e visualmente muito clássica, mas muito rica e cheia de pequenos pormenores.
Está longe das cores exuberantes, das complicadas e rápidas cenas de acção, da espectacularidade dos renders 3D.
É um filme que nos permite, que nos dá tempo para apreciar tudo o que se passa à frente dos nossos olhos.
Através da lindíssima banda sonora, composta também pelo realizador desta pérola, Sylvain Chomet, somos transportados para a suave atmosfera nostálgica e melancólica que atravessa todo o filme.
Na parte final do filme, o mágico quando se vai embora, deixa uma lacónica nota escrita à jovem rapariga que ele acarinhou dizendo "os mágicos não existem". A nossa alma sente um baque, um balde de água fria cai sobre nós.
Mas felizmente existem. Jacques Tati e Sylvain Chomet provam-no com este filme.
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