Eugénio de Andrade, pseudónimo de José Frontinhas Neto, nasceu exactamente há cem anos, na aldeia da Beira Baixa, Póvoa de Atalaia.
Começou a escrever poemas mesmo muito cedo, aos 13 anos. Publica o poema Narciso em 1939 e o seu primeiro livro, Adolescente, um livro no qual nunca teria um grande orgulho, em 1942.
Em Lisboa, em 1947 torna-se funcionário público trabalhando para o Ministério da Saúde.
Chega em força ao grande público quando publica em 1948 o seu livro "As Mãos e os Frutos", ganhando a admiração de poetas e escritores com o estatuto de Jorge de Sena e Vitorino Nemésio.
A partir daqui as obras sucedem-se com mais de cinco dezenas de títulos publicados de poesia, prosa e infantil. Conquista vários prémios - Grã-Cruz da Ordem do Mérito em 1989 e o Prémio Camões em 2001. Fez traduções de autores como Frederico Garcia Lorca e José Luis Borges.
Publica o seu último livro Os Sulcos da Sede em 2001. Morre a 13 de Junho de 2005, na cidade do Porto. No dia em que, 117 anos antes, nascia Fernando Pessoa.
Admiro nele a sua poesia ser simples, fluida, muito directa. Reflecte, mais uma observação, sobre a essência, o que é elementar, numa aparente singeleza sem uma excessiva transcendência ou busca de algo ou de uma entidade suprema.
O seu poema As Palavras são um bom exemplo da sua escrita reservada e tímida.
As Palavras
São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.
Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.
Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.
Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?
Eugénio de Andrade
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