Desde pequena que tinha medo do espelho da casa de banho. Só dele. Só deste.
Receava o ele lhe poderia devolver, mostrar. Acreditava que lhe desvendaria um segredo que não queria conhecer, do que pudesse acontecer.
Quando tomava banho a humidade ofuscava a superfície espelhada e sempre se sentiu segura. Anos a fio. Um dia tal não aconteceu. A humidade, caprichosamente, não escondeu o espelho.
Estremeceu. Ganhou coragem. De lado para o espelho, receosamente, pouco a pouco, foi espreitando cada vez mais até que a sua cabeça apareceu totalmente. Espreitou para o seu reflexo, para a sua imagem e nada viu e nada leu.
Aliviada exclama - Meu Deus, que estupidez tão grande. Não há nada dentro dele!
Virou-se para trás e abriu os olhos num misto de incredulidade e pavor. Os dedos que seguravam a tolha suavemente tornaram-se brancos com a força multiplicada pela terror. Da humidade opaca, pairando no silêncio e no ar, uma lâmina de aço que o espelho não lhe mostrou, desfere-lhe um golpe seco e único no pescoço. Enquanto gorgolejava, sufocando no seu sangue morno e de sabor macio, ouviu, espelhado na lâmina brilhante, a gargalhada da mãe morta chamando-a pelo seu nome: Zulmiraaaaaaaaa!!
Inkheart
Final dramático
ResponderEliminartentativa de um toque de humor... ;)
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