Em Novembro de 2006 estive em Buenos Aires, quando estava a caminho da Patagónia.
Durante os dias em que estive na capital argentina, fiz absoluta questão de não perder algo que faz muito mais sentido do que ir a Roma e não ver o Papa (como se isto fosse algo realmente importante!!!), que é ir a uma milonga.
As milongas são o equivalente às noites de fado em Alfama. Fazem parte da tradição, do imaginário, da cultura e de um modo de vida argentino.
É vulgar encontrar dançarinos de tango, os tangureros, ouvir a sua música, nas ruas, nas esquinas de Buenos Aires. San Tiago e La Boca são locais a procurar.
Foi no Señor Tango, uma sala bem conhecida em Buenos Aires, recomendada pelo hotel, recomendada por restaurantes e por taxistas, que fui assistir a uma milonga.
O que vi ainda hoje está marcado na memória e o tango nunca mais voltou a ser o mesmo para mim.
Paixão, intensidade, posse e submissão, ciúme, sensualidade e sedução, desfilaram com uma elegância, fluidez e técnica que não voltei a assistir.
A magia começa tarde. Não antes da meia-noite. Mas vale a pena estar um pouco antes. Enebriar com as cores escuras num ambiente escurecido mas colorido, ver os milongueros, a orquestra a preparar-se, o ritual a iniciar-se ao sabor de um vinho argentino e do ruído das conversas.
Carlos Gardel e Astor Piazzola, são nomes incontornáveis do tango, mas quem compôs O tango, aquele tango que toda a gente conhece, já ouviu ou viu dançar, não são deles mas sim de um nome não tão conhecido como os dois primeiros, o do uruguaio Gerardo Matos Rodriguez e esse tango chama-se La Cunparsita. Fez este ano, mais concretamente em Abril, cem anos. O seu título significa a pequena comparsa, a pequena companheira.
Nestes cem anos de vida, estima-se que já tenha tinha tido mais de 2700 versões, sendo cantada em variadíssimas línguas, incluindo a portuguesa.
Sim, é verdade. Este tango também foi (maravilhosamente) dançado no Señor Tango.
Agora, silêncio que se vai dançar... o tango.
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