O piano e o saxofone são talvez os instrumentos mais expressivos do jazz. É fácil perceber as suas mensagens, a forma como comunicam, o que vai nas suas "cabeças".
Mas nenhum deles tem a capacidade de nos transportar, de nos fazer flutuar como o trompete. Ele é capaz de ser etéreo, celestial, como de uma só vez nos trazer abruptamente à terra. É esta capacidade que tanto me atrai no neste instrumento de sopro.
Foi a angústia de uma criança que inspirou o trompetista israelita Avishai Cohen no tema que abre o seu mais recente trabalho e o segundo para a etiqueta alemã ECM: Cross My Palm With Silver.
No dia 18 de Novembro de 2016, um rapazinho sírio sofre um ataque químico, próximo de Aleppo, que o leva ao hospital. Enquanto é tratado, ele pergunta lavado em lágrimas a quem o ajuda e numa angústia tremenda:
- "Will I die miss? Will I die?"
"Vou morrer senhora? Vou morrer?"
Into the Silence, o primeiro álbum que o músico gravou para a ECM, em 2016, tem um tema que é transversal a todo o álbum, que o unifica: a morte do pai de Avishai Cohen.
O segundo álbum, Cross My Palm with Silver, de 2017, não é sobre a guerra da Síria como o primeiro tema poderia sugerir.
Avishai toca, interpreta, várias histórias ao longo de uns curtos, mas muito belos, trinta e oito minutos. Sabe a pouco. Ficamos a querer ouvir mais.
Tenho este dois álbuns. Gosto muito dos dois.
Penso que não faz sentido gostar de um e não gostar do outro, ambos vêm no mesmo registo melódico, mas não gostar de nenhum deles, talvez faça ainda menos sentido.
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