Fez no passado dia 17, meio século que John Coltrane, conhecido no meio por Trane, morreu. Há um ano, já aqui tinha abordado o surgimento e parte da relevância que Coltrane teve na cena jazzística da altura.
Faz este ano também meio século que o último trabalho de John Coltrane foi gravado: Intersteller Space. Seria editado sete anos depois da sua morte, em 1974.
Não é difícil pensar em Interstellar Space de Coltrane como algo semelhante à suite Os Planetas de Gustave Holst.
Mas se o segundo é acessível, fácil de "perceber", de ouvir e tem uma narrativa linear, o primeiro é em tudo diametralmente oposto.
Extremamente exigente para quem o ouve. É frenético, tridimensional, espacial, abstracto. Pura improvisação de free jazz. Se fosse uma pintura seria expressionismo abstracto.
E se o compositor inglês Holst precisa de uma orquestra para nos fazer viajar por sete planetas do sistema solar, o saxofonista norte-americano precisa de apenas dois músicos para nos fazer saltar por quatro planetas: ele próprio e o baterista free jazz e avant-garde, o também norte-americano, Rashied Ali. Os dois valem por uma orquestra.
Saturno é inquestionavelmente o planeta mais bonito do nosso sistema solar. Em Intersteller Space, Trane dedica a quarta faixa, e a mais extensa, a este planeta.
Começa com um solo bem musculado de Ali. Quando o saxofone de John Coltrane entra em acção, a complexidade de Saturn fica bem evidenciada. O som é expansivo, torrencial. A velocidade de execução inacreditável. À semelhanças das outras faixas que constam deste álbum, a ligação entre os dois músicos, a forma como se entrelaçam é extraordinária.
São quase 13 minutos de jazz aparentemente insano. Ouvir até ao fim, não será fácil, mas tentem. Abram a vossa mente, libertem preconceitos e hábitos. Quer gostem, quer não gostem, o choque, a surpresa, a descoberta de algo novo é absolutamente garantida.
Bom fim de semana ☺
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