Em 1920, o fisiologista norte-americano Walter Cannon teorizou que perante uma situação de ameaça, de stress, os animais, humanos incluídos, tinham uma de duas respostas possíveis: a luta, ou a fuga. Em inglês estas combinação de respostas é muito conhecida por fight or flight.
Agora sabe-se há uma terceira hipótese: o ficar quieto. Em inglês este termo é designado por freeze.
A resposta da paralisia, o freeze, é uma resposta de sucesso.
Significa que perante uma ameaça, o ficar quieto, é uma vantagem porque pode provocar desinteresse por parte do predador, do agente ameaçador. A fuga pode desencadear uma perseguição que por sua vez pode ser fatal, a luta em condições desiguais conduz à derrota e à perda de energia. O ficar quieto pode permitir a sobrevivência em situações em que esta possibilidade desta é muito baixa, até ao momento em que as condições evoluam para uma situação favorável de sucesso de fuga ou de luta.
A música para este fim de semana, Dou-me Corda, de Samuel Úria, é um hino ao desencanto, cantado com um encolher de ombros. Alguém que leva uma chapada sem fechar os olhos, ou virar o pescoço. Pensei de imediato no freeze.
A voz e letra pessimista mostram a sensação da quase inutilidade de lutar. Advoga o ficar quieto, estático, porque à partida o sucesso está condenado ao insucesso.
Samuel até coloca o futuro num pos-it para poder ser lembrado. Não há convicção nele, não há esperança nele.
Marionetas numa mão maior. Ou seja não faças ondas, não te mexas muito, fica quieto. Sobrevive.
Dou-me Corda
Eu tinha a corda na garganta afinada em dó
E outra corda no pescoço com um windsor knot,
Aperaltado alternativo a aspirar o Pop,
Mas com fascínio travestido de mulher de Ló.
Tenho o futuro num post-it que é para ser lembrete.
Pus os meus filhos na cantera mas nenhum promete.
O livre arbítrio fez voz grossa mas saiu falsete.
Mantive a Fé e o bom combate na carreira das 7.
Estou reservado para o lado que no fim se ri,
Mas nunca fico no meu canto sem sobrar pra ti.
Não vais chegar às notas altas sem um bisturi;
O auto-tune é tão bem vindo como o Pitanguy.
E dou-me corda
E dou-me corda.
Eu dou-me corda que está presa numa mão maior.
Eu tenho a corda dos sapatos afinada em ré:
Não consigo andar prá frente plo meu próprio pé,
Nem com trotes nem trinados nem com a Santa Sé.
Falhou-me o auto-empurranço, é só cafuné.
Eu dou-me corda
E dou-me corda
Eu dou-me corda que está presa numa mão maior.
Eu dou-me corda
E dou-me corda
Eu dou-me corda que está presa numa mão maior.
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