quarta-feira, 17 de agosto de 2016

um poema de... Inkheart


a matemática é um dó colorido

A matemática é um dó colorido roubado às insustentáveis nuvens mudas,
as cinzas que amargam a minha inconsciência singular.

Traço a dor em auroras boreais no zénite do dia diurno.
O céu é de um azul infantil pintado por um velho num piano de oitavas sujas do branco sem limites.

Sou pesado, voo se quiser. Sou leve, caminho se quiser. Sou o que quiser, se quiser.
Nego o querer.
Por isso não quero nada, no tudo que não existe por este ter o nada que não sou.

Atravesso a montanha da mentira falsificada, fluindo em ideias curvas barrando o seu que
é meu conhecimento vertical.
Fundo-me com o gelo azul dos glaciares paralelos, movimentando-me de braço dado com
um livro sem destino.

Vou ao fundo dos oceanos apenas com um trago de olhar, flutuando lado a lado com o amanhecer
lúcido de ausência. No ponto mais fundo, do mais fundo ponto do inexistente paramos.
Adeus porque somos eternidade.

Acelero estaticamente muito, muito, na queda.
Estou cego, fico cego pelo zero absoluto da relatividade pintada pelo poema da
concentricidade inconstante.

Tão bonita que és cegueira esclarecida. Tens letras loucas, sem religião, sorrindo para
quem não passa, com lábios sem virgulas ou pontos finais, apenas borrões em notas não paridas
da pauta que chora procurando a clave do sol que ainda não nasceu.


Inkheart



1 comentário:

  1. Simplesmente....sublime! Fico sem palavras como quando contemplo uma obra de arte que me fascina e me faz ficar sem elas. Porque não busco os porquês, apenas absorvo a beleza e o efeito que provocam em mim.

    Esta é uma obra de arte, Pedro. A escrita de Inkheart é fabulosa. Só desejo que ele continue a escrever por muitos e muitos anos :)

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