Há muito defendo, e acredito, que a tristeza contém em si própria algo de muito belo.
Não ficaríamos tristes se não houvesse uma perda por trás delas. Essa perda, sendo algo importante para nós ao ponto de nos pôr tristes, tem que ter sido bonito, importante, marcante, influente para nós.
Ludovico Einaudi, toca na música para este fim de semana, uma elegia.
Uma elegia é uma peça de música, uma peça de teatro, um texto, poema ou música triste, É melancólica, nostálgica, mas é por essência sempre muito bonita.
Ela usualmente dedicada a algo que já se perdeu, ou que se está a perder,
O compositor e pianista italiano Ludovico Einaudi aliou-se à Greenpeace para expressar a preocupação pelo facto de uma das faces mais belas e mais relevantes para nós, e para o planeta, estar a morrer, a perder-se a uma velocidade que brevemente, muito brevemente, atingir o ponto de ruptura, o ponto de não retorno: o Árctico.
Estamos matá-lo pelas alterações climáticas que provocamos, pelo desejo de explorar o seu petróleo, pela prática da pesca excessiva, pela presença destrutiva do plástico.
E o que acontece no Árctico não fica apenas no Árctico.
O seu degelo, a diminuição assustadora do tamanho das suas calotes polares, a perda de biodiversidade, o número de espécies ameaçadas, em risco de extinção pelo seu modo de vida, seus habitats estarem a ser modificados a um ritmo tal maneira elevado que não se conseguem adaptar. nunca foi tão elevada como neste momento.
A subida das águas do nível do mar já se faz sentir, já é (demasiado) mensurável.
Há países e ilhas cujas costas já estão inundadas pela subida da água do mar.
Há países e ilhas que tiveram que mudar parte da população para outros lugares. Eles são os primeiros desalojados, refugiados climáticos. São estimados cerca de 25 milhões pessoas nestas condições nos primeiros anos do século XXI e que duplicarão (!!!) nos próximos cinco anos.
Papua Nova Guiné, Bangladesh, ilhas das Maldivas, Indonésia, ilhas Fiji enfrentam já esta questão. O Kiribati, situado no Pacífico Sul, cujo ponto mais alto do país está a três metros acima do nível da água do mar, está na linha da frente dos primeiros países a desaparecerem. O arquipélago Tuvalu, com metro e meio acima do nível da água do mar, também no Pacífico Sul será, o primeiro a país a desaparecer.
É tão ameaçador que quando estes países enfrentam enchentes com ondas mais altas, eles já ficam debaixo de água!!
E é tal maneira grave que estes países ficam com os seus recursos naturais e infraestruturas afectados pela salinidade da água do mar: cursos de águas, pastagens, água corrente, comércio, escolas, hospitais, etc..., etc...
O conceito de refugiado climático está consagrado no direito internacional. Em 2013, foram feitos pedidos de asilo climático à Nova Zelândia vindos do Kiribati e esses pedidos foram negados sob o pretexto do precedente que iria abrir. Neste país, habitam cerca de cem mil pessoas...
Quando ouvirmos esta Elegia pelo Árctico, devemos apreciá-la pela sua beleza triste, mas nunca, jamais esquecer que este elegia sendo dedicada ao Árctico. é muito mais dedicada a cada um de nós que a ouve.
Ao modificar tão drasticamente o planeta, estamos acima de tudo a perder a nossa única casa. É uma auto-expulsão. A nossa casa, o nosso planeta, vai continuar a ficar cá e vai encontrar, como há centenas de milhões de anos que o faz, uma solução para contornar o seu maltratado estado. Mas nós, os que causámos esta modificação tão severa, tão irreversível, não teremos solução nenhuma.
Bom fim de semana
Excelente texto, Pedro. É pena que muita gente (incluindo governantes) passe ao lado destes problemas...:(
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