sábado, 27 de junho de 2015

uma música para o fim de semana - FF


Fiquei surpreendido com esta canção do FF.
Creio que Fernando Fernandes (FF) começou a libertar-se do estigma juvenil dos Morangos com Açúcar e da sua música comercial barata. É pena ainda manter o seu nome artístico.
Mas mesmo assim seu primeiro trabalho a solo, Saffra, permitiu-lhe afastar-se desse mau olhado.

Safra Deste Ano, a música para este fim de semana, tem uma sonoridade fora do habitual. Música tradicional portuguesa traçada a fado com letra muito simples e felizmente, bastante camponesa.

É uma canção que faz recordar a zona saloia.
Roupa branca brilhando ao sol varejada pelo vento. Ouvem-se os cantares celebrando as festas das colheitas.
O trigo está dourado de espigas longas e altaneiras, dando vontade de passear a mão por ele de baixo para cima sentindo a aspereza das suas pontas.

As tarefas são feitas de sol a sol, com uma paragem por altura do calor vertical, para o almoço de sandes regadas a vinho tinto, com uvas pisadas pelos mesmos que amanham o solo.
As foices são tão curvas quanto as costas dos que as manuseiam. Elas retomam rápido a sua faina, enquanto os molhos de trigo são segurados pelos braços dos ceifeiros de cabeça coberta com chapéus de palha protegendo-os da canícula.

Nas eiras ouve-se o malhar do maço estendido no chão para separar os grãos das praganas.
Junto ao casario, putos brincam à apanhada ou à escondida e as gaiatas levam giestas às avós sentadas em cadeiras de baloiço aproveitando a sombra do alpendre.


Bom fim de semana :)




O campo está no ponto para se poder semear
O coração está pronto para bater mais devagar
E eu p’ra aqui neste sarilho,
Nem semeio o milho, nem vou namorar

A voz da minha mãe chama para a ceifa uma vez mais
Mas já a tua voz me quer distante lá dos trigais
E eu que sou bom rapazinho
Esqueci-me o caminho da voz dos meus pais
E eu que sou bom rapazinho
Esqueci-me o caminho da voz dos meus pais

Só sei que a safra deste ano vai ter mais beijos do que trigo
E sei que ou muito me engano ou tu tens o plano de casar comigo
E sei que ou muito me engano ou tu tens o plano de casar comigo

Meu pai há de ficar zangado se eu não aparecer
Mas ver-me apaixonado há de fazê-lo reviver
Os tempos em que as raparigas
Cantavam cantigas para o endoidecer

Ficar a olhar pirilampos causa um certo fastio
O coração é como os campos, também requer pousio
E quando eu já estiver cansado
Volto para o arado, que eu não sou vadio
E quando eu já estiver cansado
Volto para o arado, que eu não sou vadio

Só sei que a safra deste ano vai ter mais beijos do que trigo
E sei que ou muito me engano ou tu tens o plano de casar comigo
E sei que ou muito me engano ou tu tens o plano de casar comigo


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