terça-feira, 4 de novembro de 2014

Ai que prazer não cumprir um dever...


"Soltar os braços, abrir as asas e Voar."

A castração das regras sociais, do politicamente correcto que não nos deixam mexer, não nos deixam ser o que somos. Autómatos formatados automaticamente com pretensa vontade própria.
Open Spaces claustrofobicamente e contraditoriamente fechado, de horizontes cegos que terminam no ecrã do computador impedindo sentir os aromas, verdadeiras cores não pixelizadas que estão atrás das janelas fechadas, se estas existirem.

Um horário que tem que ser estritamente cumprido. Iniciado por um despertador e finalizado por um milhar olhadelas aos ponteiros de um relógio de pulso.
Chegar antes do chefe é bom, depois, dá direito a um olhar atento que contará quantas vezes essa desobrigada obrigação acontecerá. Sair depois do chefe é bom, mas antes, atenção que não faças isso muitas vezes que estou de olho em ti.

Raiva da engenharia do Excel, do PowerPoint, relatórios e actas no qual se medem performances do que é feito e dito e não do que se é. Expressam ideias escravizadas porque obedecem a fundos, formatos, fontes de letras, tamanhos e cores que foram definidos por alguém que não conhecemos e nem sequer sabemos se existe.

Reduzem pessoas a percentagens pelo que fazem, pelo número de mails enviados, pela quantidade de línguas faladas, reuniões marcadas e conferências telefónicas.

Recursos humanos que gerem apenas recursos. Escolhas feitas por currículos vazios mas cheios de competências, mas desconhecendo completamente o que é importante para quem o envia.
Números que não são pessoas. Necessidades pessoais ignoradas porque é o espírito de equipa, a camisola que se veste em prol de um logotipo que não quem a veste que tem que imperar.

- "Sou um estranho numa terra estranha. Não sei de que mundo sou, mas sei que não sou deste."

É o que o meu amigo deve pensar enquanto espreita pela verdadeira janela partida na janela opaca e livre das grilhetas sociais. Liberta-se do rebanho, recupera a vontade própria pondo os pés em cima da mesa e sorrindo.
Todos os outros olham para ele ou de choque ou de admiração. Choque se forem umas boas ovelhinhas, admiração se houver uma pequena centelha selvagem dentro deles. Ou talvez na sua estéril formatação nunca tivessem pensado que tal poderia ser feito.

Ao desformatar-se o meu amigo torna-se ele próprio assumindo a sua cor azul no meio dos verdes.
Sorte a dele.




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