Quando a semana passada, coloquei a letra Putos de Ary dos Santos cantado na voz de Carlos de Carlos fiquei logo a saber o que colocar para este fim de semana.
Tal com o Carlos do Carmo, Paulo Carvalho celebrou recentemente, em 2012, cinquenta anos de carreira.
Não consigo perceber o que são cinquenta anos ligados a qualquer coisa. Nem sequer o imaginar.
É preciso gostar muito do que se faz ou de alguém. É preciso uma determinação e capacidade de sofrimento e resistência excepcional. Criar rugas de amor ao que se faz.
Ultrapassa-me verdadeiramente.
De qualquer maneira identifico-me bastante mais com Paulo de Carvalho e com a sua voz do que com Carlos do Carmo.
O primeiro é ecléctico. Os géneros de música que cantou e trunfou são variados. Fado, jazz, música popular, música africana e recentemente hip-hop.
´Pertence à história contemporânea portuguesa quando uma canção dele - E Depois do Adeus - foi escolhida para a primeira senha que daria origem ao movimento de revolução do 25 de Abril de 1974.
Mas é Os Meninos do Huambo da letra do angolano Mário Rui que escolho para este fim de semana na sequência da semana passada.
Ambas as letras celebram a felicidade e inocência de ser criança. Quando não existe passado e que ao aprender o futuro, nem nele o pensam. Apenas existe o presente, que à volta de uma fogueira vale pedrinhas, estrelas e luar.
Como letra gosto mais desta que os Putos. Esta é de espaços abertos, mas com uma tristeza subjacente.
Parafraseando Ary dos Santos, eles são uma bando de pardais à solta no Huambo, Angola, mas podiam ser de qualquer outro país, onde o futuro não está pré-determinado, pensado e planeado.
Sente-se que esta liberdade, esta inocência, é filha do sofrimento.
Muito provavelmente não terão refeições todos os dias em casa, magros da fome. Andarão descalços com a sola dos pés endurecidas pelas pedras pisadas. E sem chuva nem milho.
Serão felizes porque a sua realidade é dura e o seu futuro é o não ter. Ou, um dia, tristemente, é pegar em armas. Crianças-soldados que matam e morrer, sem saberem porquê.
Uma letra romântica e bonita de algo que não o é.
Bom fim de semana :)
Com fios feitos de lágrimas passadas
Os meninos de Huambo fazem alegria
Constroem sonhos com os mais velhos de mãos dadas
E no céu descobrem estrelas de magia
Com os lábios de dizer nova poesia
Soletram as estrelas como letras
E vão juntando no céu como pedrinhas
Estrelas letras para fazer novas palavras
Os meninos à volta da fogueira
Vão aprender coisas de sonho e de verdade
Vão aprender como se ganha uma bandeira
Vão saber o que custou a liberdade
Com os sorrisos mais lindos do planalto
Fazem continhas engraçadas de somar
Somam beijos com flores e com suor
E subtraem manhã cedo por luar
Dividem a chuva miudinha pelo milho
Multiplicam o vento pelo mar
Soltam ao céu as estrelas já escritas
Constelações que brilham sempre sem parar
Os meninos à volta da fogueira
Vão aprender coisas de sonho e de verdade
Vão aprender como se ganha uma bandeira
Vão saber o que custou a liberdade
Palavras sempre novas, sempre novas
Palavras deste tempo sempre novo
Porque os meninos inventaram coisas novas
E até já dizem que as estrelas são do povo
Assim contentes à voltinha da fogueira
Juntam palavras deste tempo sempre novo
Porque os meninos inventaram coisas novas
E até já dizem que as estrelas são do povo
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