Com um pouco de sorte, como aquela que estou a ter agora, apesar de o ser, não estou a ouvir um trio, mas sim um quarteto.
Chove suavemente, mas oiço-a cair. Ajuda a secção rítmica ao dar-lhe força e confere ainda mais lirismo ao piano.
A chuva, além de música para o meus ouvidos é também um prazer para os meus olhos.
Não só oiço os sons que a chuva faz ao bater na janela deixando os seus rastos alongados no vidro, como vejo o seu respingar no chão e ao cair na erva faz com que que esta ora se vergue ora se erga quase ao mesmo ao ritmo das baquetas da bateria de Leando.
Não só oiço os sons que a chuva faz ao bater na janela deixando os seus rastos alongados no vidro, como vejo o seu respingar no chão e ao cair na erva faz com que que esta ora se vergue ora se erga quase ao mesmo ao ritmo das baquetas da bateria de Leando.
Vejo os reflexos da luz do dia no alpendre molhado enquanto as notas do piano se vão soltando e libertando dele enquanto o contrabaixo ajuda e reforça a chuva a cair dando-lhe um peso emocional..
Lá fora tudo brilha contrastando com o céu cinzento, mas não excessivamente carregado de escuro.
É isto que é um privilégio. Um fim de semana, uma chuvinha agradável lá fora, e um jazz aconchegante cá dentro.
Parece que tudo está em harmonia. Tenho a televisão fechada. Um ou outro pardaleco vão poisando nos meus muros indiferentes às chuva que cai sem intensidade. Os meus gatos dormem ao meu lado. Lá fora, na minha garagem aberta, oiço um gato de rua que está a comer de um dos vários comedouros (e bebedouros) que tenho lá dentro.
Se ele quiser pode ainda escolher uma das duas caixas de cartão com uma manta e deitar-se lá com toda a segurança e apreciar o seu próprio fim de semana.
É para isso que os fins de semana servem. Para protecção. Para sossego. Para que possamos parar ou abrandar os nosso pensamentos. Para que os telefones não toquem. Para esquecermos que o mundo lá fora existe, para que possamos entrar na segurança do nosso.
A música para este fim de semana é do trio de jazz português liderado pelo piano de Pedro Neves.
Chama-se Presente e o álbum de onde este tema vem, chama-se Ausente.
Gosto da contradição. Ausente nem sempre é estar ausente. Pode ser não estar presente num sítio onde supostamente devemos estar ou onde queiram que estejamos, mas sim presentes onde nós precisamos ou desejamos estar.
E o acto da físico da presença, não implica que estejamos lá, que eu esteja lá. Muitas vezes não estou mesmo. Estou lá, mas não lá....
Bom fim de semana :)
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