quarta-feira, 18 de setembro de 2013

uma questão de lógicas




A fé inabalável e a persuasão de um argumento sem lógica. A convicção indestrutível da forma como é dita.
Tão desarmante quanto o olhar de uma criança que faz uma afirmação tão inocente que não conseguimos contrapor, sabendo de antemão que não faz sentido o que foi afirmado.

A lógica masculina tem dificuldade em lidar com a sua homóloga feminina. Falta-lhe abrangência, cores e flexibilidade. Não é abstracta. É demasiado linear e pouco tortuosa. Muito preto no branco.
É o mesmo que um alemão inflexível tentar compreender um imprevisível português.

E no entanto elas que são assim, não gostam de trabalhar com elas próprias. É frequente ouvir-se: “Gosto de trabalhar mais com homens”
Como se essa lógica inabalável as impedisse de viver numa sociedade predominantemente feminina.
Vira-se individualmente contra o grupo. São amigas, tagarelas, mas são também tendencialmente e muito silenciosamente viperinas. Aliadas hoje, desconfiadas amanhã. Uma declaração de guerra em potencial.
Falta-lhes corporativismo, união. Por eles não as compreenderem, elas precisam dos homens. Da sua previsibilidade e simplicidade.

Precisam daquela lógica tão particular, de andar à pancada para depois num abraço sincero e cheio de nódoas negras restabelecerem o equilíbrio e o bem-estar universal.
Precisam daquela lógica peculiar de falarem imenso sobre sexo, afirmarem que são capazes de comer todas as mulheres da zona quando depois chega a altura de o fazerem ou quando desafiados por elas a fazerem-no fogem numa atitude de mais olhos que barriga.
Precisam daquela lógica simplória da santíssima trindade das conversas masculinas: carros, mulheres e futebol.

Precisam de ser menos finas, mas não grosseiras. Mais moderadas mas não domadas, de descerem mais à terra mas não deixarem o céu, terem um laivo mais de testosterona mas sem perderem o seu estrogénio.

E no entanto, se elas fossem tudo isto, se realmente precisassem de tudo isto, se este equilíbrio perfeito e insonso existisse... que desilusão seria, que perda seria.
Deixariam de ser encantadoras, perderiam o seu mistério, o seu aroma único. Não precisariam que alguém lhes estacionasse o carro e a sua impulsividade moderada. Seriam aborrecidas e monótonas. O mundo seria um lugar desinteressante, chato e monocromático.

Salvemo-lo então. O melhor mesmo, é alguém dar-lhes já, de imediato, o que elas não sabem que querem.


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