quinta-feira, 13 de junho de 2013

Pessoa 125




No dia em que se comemora o centésimo vigésimo quinto ano do nascimento de Fernando Pessoa, escolho um dos poemas para mim mais marcantes do poeta de todos nós.

Ler Pessoa é quase sempre entrar no seu âmago, no seu profundo eu, na sua alma de simplicidade complexa.
Este poema é talvez um dos poemas que sinto que veio mesmo de lá dentro, do seu interior abismal, das suas entranhas mais profundas, das minhas entranhas mais profundas.

Quando leio este poema a imagem que surge é a do menino que não queria crescer, o menino que vivia na Terra do Nunca, "Nesse impossível jardim". Não se crescia, tudo era simples.
As coisa sãos o que são. Mantêm a sua pureza, a sua ingenuidade. O próprio tempo é virginal.

Não há lugar aos porquês, porque não há necessidade do saber. É a terra dos sonhos impossíveis. A terra do Peter Pan. A minha terra.


Às vezes, em sonho triste

Às vezes, em sonho triste
Nos meus desejos existe
Longinquamente um país
Onde ser feliz consiste
Apenas em ser feliz.

Vive-se como se nasce
Sem o querer nem saber.
Nessa ilusão de viver
O tempo morre e renasce
Sem que o sintamos correr.

O sentir e o desejar
São banidos dessa terra.
O amor não é amor
Nesse país por onde erra
Meu longínquo divagar.

Nem se sonha nem se vive:
É uma infância sem fim.
Parece que se revive
Tão suave é viver assim
Nesse impossível jardim.

Fernando Pessoa
21.11.1909


Como gosto de ti Fernando Pessoa. Poeta das mil caras, das mil personalidades, onde cada uma delas é cada um de nós.



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