quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Manifesto Holstee


Como em todos os manifestos há um idealismo presente. Uma revolta pacífica para sociedade, uma convocação para a anarquia ordeira.
Há sempre uma impraticabilidade associada. Considero sempre os manifestos como sendo escritos por espíritos bem intencionados e socialmente enjaulados que precisam de se soltar literariamente. Terem uma válvula de escape.

O Manifesto Holstee, que gosto muito, enferma dessa mesma incoerência. 
É bonito, inspirador, motivador, mas pouco útil. É utópico. É como proclamar que as classes sociais deveriam acabar, ou que todas as pessoas são iguais. Até deveriam, mas não podem e na verdade não são.

Dedicarmo-nos ao que mais desejamos é perigoso, porque nos retira tempo ao que não desejamos fazer mas que tem que ser feito.
Não podemos partir por aí fora a desistir dos nossos empregos, apesar de todos nós o querermos. São eles que sustentam as nossas vidas aferrolhadas a pesadas grilhetas.

Não podemos mudar o que desejarmos, mesmo que sejamos nós próprios porque também podemos mudar, influenciar algo que não pode ser alterado. A pessoa que está ao nosso lado, uma regra de conduta, a cultura de alguém, ou uma filosofa de vida diferente da nossa e que tem que ser respeitada. Podemos interferir em algo que nos permite tolerar uns aos outros, viver lado a lado.
É a clássica afirmação de que a nossa liberdade acaba onde começa a dos outros. É um facto.

Não podemos aproveitar todas as oportunidades porque arriscamos a perder a que não devemos, ou a única que verdadeiramente temos.
Viajar é maravilhoso, perdermo-nos numa viagem é um privilégio, mas usualmente não é viável ou até possível.
Ser emocional é óptimo. Darmos largas ao que nos vai na alma. Batermos com a porta com toda a força, libertamo-nos das dores, das frustrações, das obrigações sociais, gritar aos quatro ventos as nossas alegrias, os sonhos concretizados, mas também isso pode colidir com as emoções da pessoa que está ao nosso lado e lá se vai a convivência pacífica e saudável. 

Sinto-me permanentemente sufocado, por tudo o que me rodeia, por ter que ser um menino bonito, quando sou feio ou me apetece ser feio. Ter que seguir regras que não me apetece ou que me contradizem em termos daquilo que sou. Mas não quero pagar as consequências disso. E mesmo assim já as pago e já as paguei bem forte. Dolorosamente. Ser um menino feio e ser um espírito livre paga-se com dor. Com a nossa e com a das outras.
Tendo naturalmente para a anarquia, para a entropia por isso gosto muito deste manifesto.

Ele fala muito comigo e compreende-me. Identifico-me bastante com ele. Mas é utópico. O que é uma pena e um desperdício.
Pelo menos enquanto houver pessoas que orbitam à volta de outras pessoas segundo e seguindo regras que nos permitem fazer isso sem andarmos o tempo todo ao estalo uns aos outros.


Manifesto Holstee




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