quinta-feira, 14 de abril de 2011

Grande Ecrã - O tio Boonmee que se Lembra das Suas Vidas Anteriores



Estava na expectativa em relação ao Tio Boonmee que se Lembra das Suas Vidas Anteriores do tailandês Apichatpong Weerasethakul.
É sempre curioso ver um tema “estranho” ao ocidente, a reencarnação, abordado por um crente nestas matérias, um budista.
Este é uma das dificuldades que um espectador ocidental tem que enfrentar ao ver o Tio Boonmee. A dificuldade em perceber, compreender e atribuir lógica ao que se está a desenrolar à frente dos seus olhos à medida que os episódios, por vezes (aparentemente) desligados uns dos outros, como o caso da princesa envelhecida na cascata, se vão sucedendo.

A outra dificuldade vem do ritmo do filme.
Tem um ritmo (lento) muito próprio do qual não abdica ao longo de todo ele, utilizando muito frequentemente planos longos e muito estáticos, com os silêncios a fazerem sentir bem a sua presença.
Os diálogos são pausados e em tom monocórdico.

O Tio Boonmee é um doente renal em fase terminal que vive numa quinta no meio da selva. Está rodeado da sua cunhada, sobrinho e do enfermeiro que cuida dele.
A dada altura durante um jantar, surge o fantasma da sua mulher e depois o filho do casal sob a forma de um “macaco fantasma” de olhos marcadamente vermelhos. São eles que juntamente com Boonmee nos introduzem no tema da morte, da sua aceitação e preparação.

A atmosfera da selva é completamente tranquila, serena e de uma extrema placidez. Apichatpong utiliza os sons da selva magistralmente. Na verdade coloca-nos lá, no seu interior.
Ouvimos os insectos, o restolhar das folhas pisadas, os passos dos animais e pouco falta para ouvirmos o respirar deles.
A selva é filmada de uma maneira bonita, misteriosa, cheia de paz e algo poética. Os primeiros minutos de Tio Boonmee mostram bem a maneira como a selva e os seus ambientes são filmados.

No fim é um filme que vale a pena ser visto. É um filme de autor. É um filme muito pensado, difícil, o que explica a saída de algumas pessoas a meio dele, com os consequentes e inevitáveis traços de artificialidade que a ausência de espontaneidade de imediato incute em nós.

Deve ser visto com uma grande abertura de espírito e sem preconceitos. E encarado também como uma oportunidade de descoberta de uma cultura diferente, de algo que não estamos habituados e que nos é desconhecido.





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