quarta-feira, 20 de abril de 2022

Charles Bukowski - Pulp


Escrevi aqui que tinha comprado o meu terceiro livro de Charles Bukowski, Pulp. Hoje concluí a sua leitura.
Foi escrito pouco antes da sua morte e Bukowski sabia disso. Morre de pneumonia na consequência de um tratamento a uma leucemia em 1994. É portanto um livro de despedida. Escatológico.

Em vez do alter ego Henry Chinaski, em Pulp entra em acção detective de Los Angeles, Nick Belane. Um balofo detective de segunda que cobra seis dólares por hora e que tem clientes estranhos e inusitados: a Senhora Morte procurando por um escritor francês que pensa que já devia ter morrido, um cliente que se relacionava com uma extraterrestre de formas sensuais, um homem que pensa que está a ser traído pela sua bela esposa e finalmente alguém que procura um pardal vermelho. 
Ou seja, faz jus ao título do livro que nos remete para a literatura barata, de cordel, que se encontra pendurada nas bancas dos jornais.

É uma escrita mais contida, não tão visceral quanto os seus livros anteriores que li, em particular Notas de um Velho Nojento. Mesmo assim, e felizmente toda a essência, a urbanidade, da sua escrita está presente: crua, não falta o álcool e as rondas pelos bares, a violência, as personagens decadentes, a ironia, sarcasmo e a desilusão. Reflexões sobre a morte vão pontuando regularmente o livro.
Os casos vão sendo resolvidos e a última ponta solta sela o destino final de Belane e do livro.

Para os seus admiradores, Pulp não desilude mas não será o seu melhor livro. 
Bukowski parece que escreve mais para si. Para se familiarizar, para se preparar para a morte, sem amargura ou remorsos, do que para os seus leitores. Ou talvez ao contrário. Ao se dirigir para os seus leitores, a sua audiência de sempre, prepara-se para a morte. Faz sentido que assim seja.
Fica no entanto alguma tristeza por sabermos que este foi o seu último livro.






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