quinta-feira, 21 de junho de 2012

um poema de... Florbela Espanca (em dia de uma estação que não gosto)




A única coisa que me agrada no verão é pensar que só faltam três meses para o Outono :)


Panteísmo

Tarde de brasa a arder, sol de verão
Cingindo, voluptuoso o horizonte...
Sinto-me luz e cor, ritmo e clarão
De um verso triunfal de Anacreonte!

Vejo-me asa no ar, erva no chão,
Oiço-me gota de água a rir, na fonte,
E a curva altiva e dura do Marão
É o meu corpo transformado em monte!

E de bruços na terra penso e cismo
Que, neste meu ardente panteísmo,
Nos meus sentidos postos, absortos.

Nas coisas luminosas deste mundo,
minha alma é o túmulo profundo
Onde dormem, sorrindo os deuses mortos!


Florbela Espanca

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