quarta-feira, 4 de outubro de 2017

não sei de onde sou, mas sei que não sou daqui


Viajar é por excelência tempo de descobertas, um tempo em que nós estamos abertos ao mundo, à sua variedade, a outras pessoas, mas também, e provavelmente, muito mais a nós próprios.

Ler Rumi, o grande poeta sufi do século XIII, em viagem é ter a oportunidade de viajar dentro da própria viagem. Não uma viagem física, mas uma viagem espiritual, uma viagem introspectiva, uma viagem ao nosso eu.

Em pleno Sri Lanka, algures entre Kandy e Sri Pada (Pico de Adão), apresentaram-me este poema.
Este, desconhecido por mim até hoje, tal como todos os outros que conhecia até hoje, falou comigo.
Disse-me aquilo que no mais profundo eu, aquilo que há muitos anos eu já sabia, mas que ninguém até ao momento nunca tinha dito ou escrito: "não sei de onde sou, mas sei que não sou daqui."

Frequentemente sinto que não pertenço aqui, que esta realidade é-me estranha. Uma formiga que vê as outras formigas nos seus carreiros, a irem e virem dos seus formigueiros e eu ainda à procura do meu carreiro, do meu formigueiro. A saltar de um para ou outro na esperança de encontrar o certo.

Rumi disse-me para não me preocupar, não me deixar assoberbar por esta verdade, porque "quem me trouxe até aqui, também me há-de levar para casa".

My Soul is from Elsewhere é uma viagem dentro de outra viagem.




All day I think about it, then at night I say it.
Where did I come from, and what am I supposed to be doing?
I have no idea.
My soul is from elsewhere, I'm sure of that,
and I intend to end up there.

This drunkenness began in some other tavern.
When I get back around to that place,
I'll be completely sober. Meanwhile,
I'm like a bird from another continent, sitting in this aviary.
The day is coming when I fly off,
but who is it now in my ear who hears my voice?
Who says words with my mouth?

Who looks out with my eyes? What is the soul?
I cannot stop asking.
If I could taste one sip of an answer,
I could break out of this prison for drunks.
I didn't come here of my own accord, and I can't leave that way.
Whoever brought me here will have to take me home.

This poetry, I never know what I'm going to say.
I don't plan it.
When I'm outside the saying of it,
I get very quiet and rarely speak at all.


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