quarta-feira, 5 de abril de 2017

Grande Ecrã - Silêncio


Sempre que o tema do sagrado foi abordado por Martin Scorsese, este fê-lo em grande.
Não tanto ao nível das produções, mas sim ao nível mais profundo do filme, o ser humano e a sua relação com a religião.

Em 1988, Scorsese apresenta-nos A Última Tentação de Cristo, onde o realizador norte-americano mostra um Jesus Cristo humano, que deseja ter uma vida normal, que cede às tentações, que tem vontade de ter uma mulher e quando crucificado na cruz, rejeita a dor excruciante que esta lhe provoca.

Kundum, de 1997, foi a segunda incursão na religião. Desta vez na budista. Relata a história de Dalai Lama desde tenra idade, até ao momento em que este tem que fugir para Índia (Dharamsala) após a invasão cruel e destrutiva, em 1959, que ainda hoje ocorre, do país soberano do Tibete.
Seguimos o percurso intelectual, as convicções, o dilema do ficar no Tibete ou exilar-se e o quanto esta escolha o atormenta.


Em Silêncio, apresenta-nos o dilema verídico que dois padres jesuítas portugueses vivenciaram no Japão, no século XVII. Ou apostatam, negando a religião cristão, ou a perda de vidas cristãs prossegue até que tal aconteça.
Mas dá-nos uma perspectiva do lado oposto. A religião do Japão, budista, que é invadida e desrespeitada, por estes dois padres que iniciam um processo de conversão ao cristianismo sem terem a noção que estão em pleno choque cultural e religioso com o Japão.
Esta defesa é feita violenta e cerebralmente feita pelo sádico Inoue (Issei Ogata), de sorriso malicioso quase permanente e de voz untuosa e irritante, velho samurai,
Este prefere usar a tortura psicológica sobre os padres jesuítas, aplicando-a fisicamente em cristãos, do que exercê-la directamente nos jesuítas.


Dois senãos em Silêncio, o título remete para o silêncio de Deus face à angustia dos padres jesuítas perante o dilema que enfrentam: a duração algo excessiva (duas horas e quarenta) do filme e os actores Andrew Garfield (padre Rodrigues), Liam Neeson (padre Ferreira) e Adam Driver (padre Garupe) que verdadeiramente não conseguem convencer-nos no desempenhos suas personagens.
Particularmente Andrew Garfield cujo cabelo está sempre, ou quase sempre imaculado e arranjadinho.

Realização é eficaz e contida, sem exuberância, mas com a mão segura de um grande, grande mestre do cinema actual.







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