sábado, 10 de dezembro de 2016

uma música para o fim de semana - GNR



Dada a eternidade que Rui Reininho está nos GNR, custa a crer que estes não tenham sido fundados por ele, e que nem sequer ele tenha sido sempre a sua voz.
O guitarrista Alexandre Soares foi o fundador e a voz principal.
Os GNR começaram como banda de garagem em 1980 e sairam de no ano seguinte com o lançamento do famoso single Portugal na CEE.
Com a entrada de Rui Reininho em 81, Alexandre Soares passa a ser exclusivamente guitarrista. Por sua vez Alexandre deixa a banda em 1986. Mas não sem antes gravar Psicopátria. E foi há 30 anos! Mais concretamente em Outubro de 1986.

Psicopátria e a Valsa dos Detectives de 1989 são os seus opus magnum, os trabalhos maiores de uma carreira feita de 35 anos.
Quer um, quer o outro, são montras daquilo que caracteriza a essência dos GNR: o timbre da voz de Rui Reininho e as letras non sense surreais, causticas e irónicas, o pop rock de travo por vezes abstracto.


Fujo com extrema dificuldade aos maiores clássicos de Psicopátria: Pós Modernos, Bellevue, o mítico Efectivamente. Mas cedo Ao Soldado Desconfiado.
Um tema melancólico, resignado, com uma implícita ausência de esperança. Uma crítica aos gabinetes dos burocratas da CEE, um clube para onde Portugal tinha entrado no ano anterior, pela mão de Mário Soares.

"Será nos gabinetes que se ditará a nova guerra"

Uma nova guerra, onde aquilo que é pessoal, passa a ser económico.


Bom fim de semana :)




Diz-me se és o meu reflexo, 
oh fonte vulgar.
Diz-me onde esconder a arma 
que eu soube enferrujar.
Castro com castro edificas, 
eu castro o gesto a que incitas. 
Estátua de orgulho gelada, 
sobre esta água parada.

O vento de amanhã quando soprar 
desagregará o tempo presente  
A memória da batalha clássica foi-se, 
a bandeira ser-me-à indiferente. 
Vim para devolver as cidades 
aos intoxicados da terra.
Será nos gabinetes que se ditará a nova guerra

Sempre que fui combater 
rastejei pelo chão.
Onde nem a beladona cresce 
tocando o musgo com a mão 
Descarnado de alma, 
mas mantendo a calma 
Dilacerado, esforço em vão

O vento de amanhã esfuma 
os viciados do controle 
O cheiro a carne assada humana 
será uma recordação 
Nem mais um soldado anónimo 
dormirá neste caixão
Sonhando arrogante, com o nome 
da sua batalha banal

O vento de amanhã quando soprar 
desagregará o tempo presente 
A memória da batalha clássica foi-se, 
a bandeira ser-me-à indiferente 
O cheiro a carne assada humana 
será uma recordação 
Nem mais um soldado anónimo 
dormirá neste caixão
Sonhando, arrogante, 
com o nome da batalha banal


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