quarta-feira, 4 de maio de 2016

12 metros - pouco menos que dez vezes menos


cenote, Mérida - México
Em Fevereiro de 2009 estava a concluir uma espectacular viagem de mês e meio pela América Central.
O fim dessa viagem foi em Mérida, México. Um instrutor de mergulho de apneia e guia local levou-me a um cenote pouco batido na zona.
Não me recordo do nome dele, mas no fundo era um muito discreto e estreito buraco no chão perdido entre dezenas árvores e com uma estreita escadaria metálica a dar acesso até lá abaixo, quase directamente na água.

O cenote era escuro, apenas iluminado pela clarabóia natural por onde entrava um jacto de luz cónico e o seu tecto estava pejado de raízes de árvores pendentes.
A água era de um azul transparente quase irreal. O fundo era uma pequena plataforma em forma de rampa. Começava a cerca de quinze metros de profundidade e passava depois para a sua profundidade total, cerca de cinquenta metros.

No mergulho, até um certo ponto tem que se fazer um certo esforço para descer, mas a partir daí o corpo desce sozinho, por si só. Com barbatanas, meia dúzia de mergulhos e seguindo as suas instruções cheguei aos doze metros com facilidade. Dez anos de natação ajuda muito.
O instrutor aconselhou-me a manter-me nessa profundidade por falta de experiência da minha parte, para poder ir mais longe. Com muita dificuldade, segui o seu conselho. Durante mais de uma hora ia e vinha, ia vinha, ia e vinha. Uma hora de intensa liberdade e deslumbramento.

A experiência marcou-me profundamente. Senti-me a voar imerso na água. Quando nadava para fora da profundidade da plataforma, sentia literalmente a vertigem e a atracção do abismo, devido diferença de profundidades.
Literalmente senti-me voar. Acima de mim tinha uma coluna de água azul clara, bem iluminada pela clarabóia no tecto, por baixo de mim tinha o azul que se tornava gradualmente muito escuro devido ao aumento da profundidade e da luz em chegar ao fundo.
Voei a doze metros de profundidade de água. Senti verdadeiramente a vertigem do azul. Doze metros!


Não consigo imaginar o que é mergulhar, voar, até à profundidade 122 metros de profundidade. no Dean's Blue Hole na ilha Long Island nas Bahamas
Foi exactamente essa a profundidade que o neozelandês William Trubridge atingiu na competição mundial anual, a Vertical Blue, na categoria de imersão livre - sem barbatanas e sem lastro podendo utilizar o cabo guia para subir e descer - num mergulho que durou quase quatro minutos e meio de duração.


Ou seja, estive a pouco menos que dez vezes menos da profundidade que o William atingiu no passado dia 30 de Abril.
Não esquecer que usei barbatanas nos meus, não menos espectaculares, doze metros. ;)






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