domingo, 31 de janeiro de 2016

a minha cadela chamava-se Hiromi


Um animal é para mim algo mesmo muito importante.
Particularmente quando as suas vidas me são confiadas. Seja o acaso a trazê-las, ou seja uma decisão pessoal de ficar com elas.
Os nomes que lhes dou, têm que ter um significado especial, têm que ser relevantes. Reflectir aquilo que é importante para mim e do que gosto. É o caso de alguns dos animais cujas vidas se cruzaram com a minha: Thor, Miles, Alma, Mahler, Nina e Stark.

No passado dia 26 encontrei uma cadelinha na estrada, atropelada. Velhotinha, de focinho branco e com cataratas. Estava assustada, em estado de choque, não mexia as patas de trás. Gania imenso.
Com uma manta tapei-lhe o focinho para a acalmar, enrolei-lhe o resto do corpo e pu-la na carrinha.

Na clínica veterinária foi estabilizada, sedada e levou um antibiótico de espectro largo. Parecia apresentar lesões neurológicas. Eu estava agachado à sua frente. Os meus olhos nos dela. Havia alguém que estava com ela.
No dia a seguir fez raios X. Tinha uma lesão na coluna. Se fosse uma cadela mais nova seria possível estabilizar a coluna. Com cerca de doze ou treze anos de idade iria ser difícil que tal acontecesse, acima de tudo pela dor e sofrimento que lhe traria.
O prognóstico era mau.

Via-a todos os dias. Estava calma e dormia profundamente. Estava quentinha e aconchegada com umas mantas minhas.
Quando a acariciava, abria os olhitos durante alguns segundos e depois fechava-os.
Ontem entrou em sofrimento. A eutanásia era o melhor para ela. Foi o que aconteceu.

Dois dias, antes da sua morte, quis que ela tivesse um nome e um dono, um tutor. Que não fosse só, a cadela, que fosse algo mais que isso. Na veterinária quando abriram a ficha e perguntaram:
- Qual vai ser o nome dela?
- Hiromi, disse eu.
Soletrei o nome e na ficha surgiram os nossos nomes: Pedro e Hiromi.
Agora havia oficialmente uma pessoa responsável por ela e que gostava muito dela.


Hiromi Uehara, é uma pianista de jazz, japonesa. Esteve debaixo da asa de um maiores pianistas de jazz de sempre e pelo qual tenho uma admiração sem fim, Ahmad Jamal, e que felizmente se encontra activo e fantasticamente no activo.
Hiromi tem um álbum a solo, editado em 2009, um marco na sua carreira, que se chama Place to Be.
A última faixa é a que dá o nome ao álbum, Place to Be (Lugar para Estar).

Este tema é lindissimo. É terno e sereno. Muito sentido.
A minha cadela chamava-se Hiromi por causa de Hiromi Uehara, por causa de Place to Be.

Se o Place to Be de Hiromi não foi comigo que seja no Paraíso dos Cães. Com o Thor.







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