quinta-feira, 30 de abril de 2015

dia mundial do Jazz - Miles Davis (a prostituta de Bye Bye Blackbird)


Proponho duas alterações a este pequeno quinteto maravilha :)

Tiro o ratinho da flauta trocava-o por outro com um trompete. O ratinho da guitarra sai e no seu lugar punha outro com uma bateria. O resto da formação fica como está. Sem alteração.




Ou seja, temos um piano, um contrabaixo e a bateria, secção rítmica clássica, na linha da frente os sopros: saxofone tenor e o trompete.
Se dermos nomes aos ratinhos, temos respectivamente por esta ordem: Red Garland, Pul Chambers, Philly Joe Jones, John Coltrane e o líder de todos os ratinhos, Miles Davis.

Em 1955, precisamente quando este quinteto foi formado por Miles Davis ele ficou conhecido na história do jazz como o Primeiro Grande Quinteto de Miles Davis. Durou relativamente pouco tempo, mas tudo o que gravou ficou para sempre. 
Passados sessenta anos, os seus álbuns são de referência e nenhuma colecção de jazz digna desse nome pode estar isenta da sua presença.

Em 1957, com a entrada de Miles Davis no mundo das drogas, este quinteto de excepção desfaz-se.
Dando origem alguns anos depois ao Segundo Grande Quinteto de Miles Davis.
Exactamente os mesmo instrumentos, mas tocados por músicos completamente diferentes.
Miles Davis no trompete, Wayne Shorter no saxofone tenor, Herbie Hancock em piano, Ron Carter com o contrabaixo e Tony Williams na bateria.

Do primeiro quinteto existe um álbum seminal na sua carreira, lançado em 1957, que se chama Round About Midnight. Foi o primeiro álbum gravado para a Columbia por esta formação. 
É um álbum que gosto particularmente. A minha faixa favorita é a número 4 - Bye Bye Blackbird.

É uma canção escrita em 1926. A sua letra descreve uma prostituta que deixa a sua actividade e regressa a casa da mãe. Miles Davis dá a sua versão desta canção sem o suporte da voz. É de tal maneira bem sucedido e conseguida que a tornou sua. 
Falar de Bye Bye Blackbird é falar de Round about Midnight de Miles Davis.

Podemos tentar imaginar o que se terá passado.
Após uma breve introdução do piano e bateria, o trompete de Miles Davis entra de uma maneira introspectiva. Sem pressa. Com frases simples, sustentadas e economia de notas. A prostituta deixa o bordel, caminha lentamente na rua escura e vai remoendo as suas memórias, ainda absorta no passado recente.

Quando passa o protagonismo para Coltrane, o seu sax tenor torna-se mais rápido, mais nervoso, mais sobressaltado. 
Provavelmente será aqui que a prostituta se apercebe do que ficou para trás e o que tem pela sua frente. Está nervosa. Deu um passo importante na sua vida.

Na passagem de testemunho do saxofone para o piano de Red Garland, este baixa-lhe o nervosismo, torna-o mais saltitante e descontraído. 
Diria que a prostituta está contente. O que tem pela frente dá-lhe a esperança e o conforto que tinha perdido durante anos. 
Finalmente quando o piano transita e regressa ao trompete de Miles Davis este conclui o tema no mesmo registo com que o iniciou. 
Talvez, serenamente, na rua à noite, a prostituta chega a casa da mãe e dorme como nunca dormiu.





2 comentários:

  1. Do 1º quinteto, John Coltrane, grande, guardo álbum. Do 2º quinteto, referências maiores do jazz actual, Wayne Shorter, Ron Carter. Herbie Hancock. Devo considerar-me, humilidemente, uma privilegiada, a todos ouvi ao vivo. Miles Davis, não :-(

    Talentos excepcionais, são, regra geral, sempre 'sugados' pelas drogas, ou pelo álcool. Em todas as áreas.

    Bye-bye blackbird é também uma das minhas músicas/canção de jazz favorita. Lindamente descrita por ti, aqui. Adorei ler.

    Bom fim-de-semana!
    Beijo

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    1. És mesmo uma privilegiada :)

      Nas décadas de 50 e 60, a melhor época que o jazz atravessou em toda a sua história, o álcool e a droga grassava por todo o lado.

      Miles Davis, Coltrane, Bill Evans, T. Monk, Charlie Parker e muitos outros passaram, e alguns não sobreviveram, por essa praga.
      É conhecido que muitos músicos de jazz sofriam de depressão e tinham vários problemas e desordens de origem psicológica.

      Creio que era o preço que tinham que pagar pela sua genialidade e posteriormente pela sua imortalidade. Criação e loucura parecem andar de mãos dadas.

      Beijinho :)

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