terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

o circo e os animais





A parede não o deixa recuar mais. Está acorrentado a uma bicicleta caída sobre si. Seu instrumento de trabalho e tortura. Está encurralado e não pode fugir. Tem um olhar de medo profundo. De pânico. De quem sabe o que vem a seguir.

Quem vê esta fotografia, não pensa que quem, sim é um quem, vê o homem a aproximar-se dele, sabe que vai doer, sabe vai ser magoado e tem medo disso.
Medo verdadeiro. Ele sabe, ele reage, ele pensa. Ele sente.

É um macaco. Mas é um ser senciente. Tal como nós. Sabe o que é bom e o que é mau. O que o conforta e protege e o que magoa e assusta. Tal como nós.
Sabe avaliar o meio que o rodeia e reagir perante ele. Tal como nós.

Está num circo e é treinado brutalmente e cruelmente. A não obediência implica mais dor, a não aprendizagem implica mais castigos.
Quem está na assistência não pensa nisto, ou não quer pensar, não sabe, ou não quer saber.
Isto não se passa à frente dos olhos que o vêm na pista de um circo.
A assistência só vê o lado colorido de um animal que é fofo, exótico, que faz coisas engraçadas com a bicicleta e a faz rir. Aplaudem e apontam o dedo e dizendo - “Olha o macaco, olha o macaco na bicicleta!!”

Mas o macaco que os diverte paga um preço pesado.
Paga com a sua liberdade. Paga com o confinamento a uma jaula quase tão pequena como ele. Paga com tristeza, dor, sofrimento e medo.
Com uma vida mais curta que o normal. Paga por não estar no seu habitat natural onde pertence. Por não comer o que ele sabe que devia comer.

Quem vai ao circo com animais contribuí para que animais como este macaco, sejam mantidos como ele e paguem da mesma maneira que ele paga.
Por isso os circos com animais têm que acabar.

Porque são lugares cruéis. Onde não há respeito, carinho e ternura por eles.
Onde estão impedidos à força, à bruta, de ser o que a sua natureza lhe diz para ser.
Quem não percebe isto, que veja esta fotografia e se ponha no seu lugar. Fique acorrentado, entalado entre uma parede e uma ameaça com um chicote na mão.
Que substitua o olhar apavorado de um animal senciente por outro olhar apavorado de outro animal senciente. 
O que lê este texto.



A fotografia do chinês Yongzhi Chué a vencedora do World Press Photo 2015 na categoria Nature.
Retrata a aproximação do treinador Qi Defang ao macaco que é exibido num circo de Suzhou, Anhui province, China

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