terça-feira, 11 de novembro de 2014

5 anos de catarse


Surpreendentemente a Esteira cumpre 5 anos de vida hoje.

Ao reler os primeiros posts colocados não me consigo rever neles. São pouco comunicativos e inexpressivos com cara de pau. Tipo Ramalho Eanes.

No caso da Esteira de Letras, enquanto blog e como em qualquer outra actividade criativa, o tempo muda a perspectiva das coisas e a maneira como elas são, neste caso, escritas. Estranho seria se tal não acontecesse.

Creio que a isto se pode chamar evolução. Talvez para melhor, talvez para pior, mas não deixa de ser uma evolução.
Os primeiro posts parecem-me muito formais, rígidos, até telegráficos. Não tanto na extensão dos textos mas antes no sumo e na apresentação dos seus conteúdos.
Agora tento pensar penso com alguma antecedência neles. Tento colori-los, criar texturas, aromas e transmitir imagens com as palavras, com as frases.


A fase inicial foi alimentada pelas politiquices, Durou algum tempo.
Não tinha (nem tenho) jeito para comentar o quer que seja do ponto vista político. Mas nessa altura a Esteira viveu do meu ódio de estimação a Sócrates. Ódio esse que se mantém intacto. Sócrates foi dos políticos mais fedorentos que alguma vez passaram por este paízinho rectangular.


Com a sua saída de cena a Esteira enveredou pelos meu gostos pessoais. Cinema, livros, música, poesia.
Tornou-se também bastante mais introspectiva. Passou a andar por vezes no lado escuro da lua.
O lado por onde usualmente ando. Um lado que pode ser aconchegante e acolhedor onde pouca gente vai lá e conhece.


O ódio de estimação a Sócrates foi substituído mais construtivamente por um verdadeiro, genuíno e visceral ódio à execrável tauromaquia e a tudo e todos que giram à volta dela.

Uma actividade praticada por imbecis,covardes e sádicos. Gente bruta, inútil, putrefacta e com uma gigantesca inépcia social.
Gente que tem um profundo desrespeito básico pela vida e a absoluta incapacidade de enfrentar um touro na sua verdadeira pujança. Quando entra na arena é um animal já torturado, em sofrimento, enfraquecido, um farrapo do que era. É um animal nestas condições que aquelas coisas que estão na arena vai literalmente destroçar e despedaçar. É gente violenta que gera violência.


Confesso que gosto do discreto Inkheart. Surgiu recentemente. Veio do nada.
Tenta fazer poesia, escrever pequenos contos mas é completamente desajeitado. Mas gosta do que tenta fazer e é sério nisso. É um personagem que como o gato Cheshire, mas sem a sua sabedoria, que aparece e desaparece numa nuvem de fumo. Ora está, ora não está.


"Uma música para o fim de semana", cria-me dores de cabeça semanais. Há quase quatro anos que esta rubrica existe.
Todas as semanas tento encontrar uma música portuguesa que me diga alguma coisa. Pela sua letra, música ou com um pouco de sorte pelas duas. Não sou um ouvinte regular ou um apreciador de música portuguesa o que coloca problemas adicionais.
Tempos a tempos surge uma edição especial.
Quando alguém musicalmente importante para mim morreu ou uma data especial se comemora nessa semana. Dave Brubeck, Amy Winehouse, REM, Rollingstones e Ravi Shankar deram origem a algumas dessas edições.


Como todos os blogues, eles reflectem e denunciam quem o escreve.
Há uma nota autobiográfica por cada post colocado. Um pensamento, uma reflexão, uma música escolhida, um poema que se gosta. Tudo o que somos ou gostaríamos de ser.
No fundo é o nosso retrato que publicamos em cada post.

Foi a Esteira que provocou uma das maiores mudanças da minha vida e uma das mais improváveis decisões vindas de mim.
De um carnívoro feroz, competindo taco a ataco com um grande felino com a quantidade carne que comia e qualquer fosse a sua origem, tornei-me um vegetariano convicto.
De novo foi uma das decisões mais positivas da minha vida. Mudou-me profundamente.
A visão que tenho do mundo, a defesa da vida em todas as suas formas, a sensibilidade ao sofrimento animal, a consciência que também o planeta sofre e agoniza sobre a nossa acção que actualmente é atrozmente destrutiva.


Uma vez, olhando para mim e conhecendo minimamente a minha personalidade, perguntaram-me porque é que me expunha de uma maneira mais ou menos evidente através da Esteira de Letras.
Sendo a Esteira escrita por mim e na essência para mim, a resposta a dar parecia-me clara: uma discreta catarse. Uma tímida libertação do Eu.





1 comentário:

  1. Muito belo, o texto e a foto! A foto é marcante!
    Vim só espreitar...

    Aguardo a música para o fim de semana :)

    Beijo

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