sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

a morte de uma palavra


No início deste ano, a Porto Editora divulgava que a palavra do ano de 2013 era "bombeiro".
Para além desta palavra, havias as opções de "irrevogável", "inconstitucional", "grandolada" e mais umas quantas.
Concordo com "bombeiro" é sem dúvida uma GRANDE palavra. Cheia de nobreza, sacrifício e dedicação ao desconhecido. É uma homenagem justa para quem o é e para quem o faz anonimamente.
Mas pessoalmente votei "irrevogável". Não pela palavra em si, mas pelo luto do seu significado.

Hoje ao falar com um colega de trabalho, a certa altura ele disse "irrevogável". De imediato não acreditei nela. Não acreditei no seu significado.
Irrevogável é uma palavra forte e pesada. É como "nunca" e "sempre". São palavras limite, palavras de um só sentido que deve ser respeitado e bem pensadas antes de serem ditas.

É tudo aquilo que Portas arrasou. Conseguiu arrasar e atirar para a lama em poucos dias o seu significado.
Algo devia ser vista como uma fronteira a não passar, uma parede que não se atravessa, que traz honra a quem a mantém, assumindo os custos de a manter, passou a pó. Ficou desacreditada, associada a chantagem e a baixa política. Passou a ter um preço, a poder ser comprada.

Irrevogável, uma palavra plena de certeza, carrega agora e penosamente a cruz da dúvida. Quando deveria ser um ponto final, tem agora reticências. É uma palavra que morreu.
Ouvi-la, lê-la, fico logo de pé atrás. Fico em suspenso à espera da contradição, da sua negação, da contraproposta, do que vem a seguir.
Ela agora soa a mentira e a manha. Irrevogavelmente...




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