terça-feira, 22 de outubro de 2013

Ódio


No decorrer de uma missão normal da segunda guerra-mundial. Dois pilotos enfrentam-se.
Um messerschmidt e um spitfire. Um ataca, o outro foge. Os papeis invertem-se uma e outra vez. Indefinidamente. O tempo arrasta-se e ninguém ganha ou perde. Ninguém morre.

Com o prolongar do jogo mortal do toca e foge, a impaciência vai ganhando, a raiva está em crescendo.
Perde-se o discernimento, a objectividade. Destruir, destruir. É imperioso. É obsessivo.
Sim porque sim. A condição humana, as suas consciências, desintegram-se em fragmentos de uma frágil e fina casca colorida num espampanante e intenso vermelho escurecido.

Então tornam-se máquinas. Obedecem a impulsos. E dominam. Dominam tanto que são consumidos por eles. Tornam-se eles próprios impulsos. Tornam-se irracionais e depois cegos no seu automatismo. Cegos, cegos, cada vez mais cegos. Cegos para além da cegueira.

Deixam de se tornar, de ser qualquer coisa, alguma coisa. Quando tudo os consome, tudo desaparece.
Quando nada mais resta, são incorpóreos. São essência. São aquilo que são. São Ódio. Apenas Ódio. Ódio em estado puro. Até ao fim. E para além dele.






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