domingo, 23 de janeiro de 2011

Grande Ecrã - O Americano

Penso sempre mais em Anton Corbijn como fotógrafo do que como realizador de cinema.
E foi graças a esta fotografia de Miles Davis que uma vez vez vi colocada no extinto Hot Club da Praça da Alegria que o seu nome me chamou a atenção.
Foi com curiosidade que fui ver O Americano.

George Clooney compõe na perfeição o papel de um assassino (Jack) de rosto atormentado, que vive em alerta permanente e que apesar de frio e metódico tem em si um lado sensível, que faz com que ao longo de todo o filme, seja para nós espectadores, uma figura simpática pela qual torcemos.

Sendo um filme de assassinos, espera-se que seja um filme de acção. Um filme de perseguições espectaculares, diálogos rápidos, alguém sempre a morrer, tiros impossíveis e explosões grandiosas.
Mas não. Felizmente que é um filme "parado". Introspectivo mas tenso. Contido, mas sempre prestes a explodir. Sem diálogos extensos e vivos, mas precisos. Os olhares e a psicologia dos seus personagens são a sua maior força e o grande trunfo deste filme.

Na pacata aldeia italiana de Abruzzo, onde Jack se refugia na sequência de um trabalho mal concluído, vai relacionar-se com duas personagens. O padre Benedetto (Paolo Bonacelli), uma figura literalmente paternal que intuitivamente percebe a sua natureza pecadora e Clara (Violante Placido), uma bela e sensual prostituta que tal como Jack é uma alma perdida à espera da redenção.

Previsivelmente no fim do filme o americano paga um terrível preço. Não o preço da sua vida que vai perder, mas acima de tudo o amor que não vai ter e a paz que não vai alcançar.
Os últimos segundos do filme dão-nos um toque de poesia. O quase despercebido esvoaçar para fora do ecrã, de uma borboleta - não é um acaso que seja a tatuagem que Jack tem nas suas costas - branca destacada pelo tronco negro de uma árvore.

Agora, entre o Corbijn fotógrafo e o Corbijn cineasta qual prefiro?
O primeiro :).


Sem comentários:

Enviar um comentário