segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Cavaco, Alegre, os seus bancos e o FMI

Continuo a pensar que Cavaco vai ganhar as presidenciais. Mas já não na primeira volta.
E vai ter que se esforçar um pouquinho mais para ganhar na segunda.
A coisa correu-lhe mal com a divulgação das mais valias de 140% que realizou com a venda das acções do BPN.
Deixou de ser um passeio no parque para passar a ter que ser um jogging ligeiro.

Naturalmente que acredito que este seja um negócio razoavelmente pouco transparente e para sempre mal explicado, mas não ilegal.
E continuou a correr mal com o veto ao diploma que simplifica a mudança de sexo e nome próprio no registo civil. Deu motivos para a esquerda moderada que não se revê em Manuel Alegre e que potencialmente poderia canalizar em Cavaco o seu voto, se virar para o inofensivo Fernando Nobre.

Por sua vez Manuel Alegre precipitou-se ao atirar pedras ao telhado do seu vizinho e concorrente às presidenciais do dia 23 deste mês. Esqueceu-se que tinha telhados de vidro.
O agora famoso texto que escreveu enquanto deputado a fazer publicidade para o BPP a pedido de uma agência de publicidade (BBDO) e pelo qual recebeu 1500 euros foram dois tiros no próprio pé.
O primeiro, porque enquanto deputado e ao abrigo do Estatuto dos Deputados, está proibido de participar ou praticar actos de publicidade.
O segundo, quando diz que devolveu o respectivo cheque, mas que afinal parece que não chegou a sair da sua conta. Mal explicado portanto.

Claro que há diferenças de escala. Cavaco ganhou qualquer coisa como 147 mil euros e Manuel Alegre apenas 1500 euros. O caso BPN é muito mais mediático que o BPP e é de reter que o governo injectou 5 mil milhões de euros de dinheiros públicos no primeiro e está expectante em relação ao segundo.
Alegre ao divulgar e empolar este caso, deu sensação que estava a servir de moço de recados do governo. Talvez em busca de um empurrão, de um apoio do PS mais visível e de um BE mais interventivo. Mas também isto lhe correu mal. O PS não lhe fará esse favor tão facilmente. Além que este não se reconhece em Alegre. É uma relação cordial, de circunstância.
Quanto ao BE está mais preocupado com Sócrates que com o Cavaco.

A política nos dias de hoje está longe de ser transparente. Por definição é uma actividade obscura e de tortuosos meandros.
Não valorizo os valores envolvidos ou as entidades em causa, mas sim os actos em si. Não acredito na isenção de nenhum deles, ambos são políticos. No fundo, é tudo farinha do mesmo saco. Nada a fazer ou a dizer.
Estes casos rapidamente vão ser esquecidos e serão apenas (re)lembrados como um fait-divers político de uma vulgar campanha eleitoral presidencial em risco de ser secundarizada pelo ressurgimento do fantasma do FMI.

Historicamente os portugueses elegem para segundo mandato o presidente em exercício.
E continuo a pensar que quer para Sócrates, quer para um próximo e muito provável novo governo, quiçá ainda este ano, Cavaco é claramente mais experiente e será um presidente mais estabilizador e cooperante que Alegre.
Potencialmente poderá ser um trunfo maior se o tivermos como presidente, quando... o FMI chegar.

Portanto, se os portugueses previsivelmente mantiverem Cavaco como presidente eu não tenho nada contra.

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