terça-feira, 7 de dezembro de 2010

quando a excepção é a regra





Toda a gente sabe que quando chega a altura de os políticos cortarem verbas em questões que lhes digam directamente respeito, no último minuto aparece uma excepção.
Uma adaptação, uma dobra nas regras que lhes permite alterar o que está estabelecido à medida que os interesses vão surgindo.
E ao longo das últimas semanas elas não têm parado de aparecer.

A dos Açores é uma delas. Para compensar o corte de 5% nos salários, Carlos César, chefe do governo regional dos Açores, vai atribuir um montante equivalente ao valor que é retirado. Afirma que não vai custar um cêntimo aos contribuintes, mas como Marcelo Rebelo de Sousa diz, se esta compensação vem de um fundo, resta saber quem contribui para o dito fundo.
Sócrates indirectamente já disse não pode intervir neste assunto...

Esta é talvez a mais imoral e difícil de engolir. É a permissão de acumular pensões e salários quando tal está vedado ao "povinho".
Numa tentativa de trazer "moralidade" a esta questão, o governo aprovou em Conselho de Ministros a proibição da acumulação de salários com pensões. Agora chegou a respectiva excepção pelas mãos do próprio governo.

Ou, a excepção que abrange os médicos que não se tenham reformado antecipadamente e que voltem a trabalhar para o Estado, também estes podem acumular pensões e salários.

Ou mais esta excepção que colocará os hospitais públicos de gestão empresarial fora do corte de 15% nos gastos operacionais mas não abrangendo os hospitais públicos, provocando fortes protestos dos gestores destes últimos.

Sem esquecer a excepção aos cortes salariais da Função Pública que estejam incluídos em empresas públicas de capital exclusivamente ou maioritariamente público (EPE), que muito foi falada por aparentemente ter sido feita à medida da Caixa Geral de Depósitos, que já tinha feito esse pedido de excepção com o argumento de evitar a fuga de quadros para o sector privado.


No livro de George Orwell, O Triunfo dos Porcos existe um mandamento que diz:

"Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais que outros"

A classe política segue à risca este mandamento e nós sabemos bem disso.
Mesmo assim não deixa de ser chocante, e muito frustrante, quando somos confrontados directamente com o facto.


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