Na verdade, nesses tempos inacreditavelmente dourados e saudáveis, todo o espaço da Gulbenkian foi muitas vezes o meu refúgio espiritual.
Habituei-me ao longo do tempo, a encontrar velhos amigos, entenda-se obras, nas exposições do museu Gulbenkian e particularmente nas exposições do Centro Arte Moderna (CAM).
Aqui conheci as vidas e obras de artistas nacionais que marcaram o século XX nacional. Almada Negreiros, Amadeo Souza Cardoso, Mário Cesariny e Eduardo Viana entre outros.
Aqui conheci as vidas e obras de artistas nacionais que marcaram o século XX nacional. Almada Negreiros, Amadeo Souza Cardoso, Mário Cesariny e Eduardo Viana entre outros.
Fui muitas vezes lá apenas para os reencontrar. Para reatar conversas interrompidas por deveres universitários.
Quando concluí a faculdade e me tornei "adulto", as minhas idas até lá terminaram.
Há alguns anos voltei e tive o choque de o CAM ter renovado a sua colecção permanente, rotatividade de obras segundo informaram, e de já não ter encontrado as minhas velhas amizades.
Infelizmente não iria ter oportunidade, tempo, de aumentar o meu circulo de amigos com estes novos nomes. Problemas de gente crescida…
Recentemente voltei lá. Numa de ver o que o CAM tinha para oferecer. Surpresa. Encontrei parte deles. Principalmente um que sempre me encheu as medidas e me fez voltar várias vezes lá só para o ver, um "olá como estás?" para depois partir para a monotonia das aulas a sério.
O eleito chama-se K4 Quadrado Azul. É um pequeno quadro de Eduardo Viana inspirado num texto futurista de Almada Negreiros publicado em 1917 com o mesmo título.
Este quadro é uma natureza morta, usualmente uma temática que não gosto, geométrica na qual o título da obra está contido literalmente na sua composição.
Há certas coisas das quais gostamos ou não sem sabermos porquê. Apenas gostamos. Para mim esta é a forma mais pura de gostar. Livre da prisão das análises, de comparações por vezes injustas e dos formalismos das interpretações.
Assim é este quadro. Gosto porque gosto. E gosto muito.
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